A peculiar ausência de Poiares Maduro

O ex-ministro criou o Portugal Inovação Social e coordena o relatório para a Comissão Europeia. No entanto, não esteve na conferência. O Governo não explica porquê.

A conferência ‘Opening up to an era of social innovation’ – ou Social Innovation Conference – foi um evento realizado esta semana, em Lisboa, co-organizado pelo Governo português, a Comissão Europeia e a Fundação Calouste Gulbenkian. O primeiro-ministro António Costa, o comissário europeu Carlos Moedas, o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, e vários membros do Executivo nacional marcaram presença.

Houve, todavia, uma ausência que se fez notar – não tanto pelo lado político, mas pela vertente académica. Miguel Poiares Maduro, ex-ministro adjunto e do Desenvolvimento Regional de Pedro Passos Coelho (2013-2015), foi o criador do programa ‘Portugal Inovação Social’, hoje em prática, e é também o coordenador do relatório estratégico sobre a Inovação Social pedido este ano pela Comissão Europeia. Sendo o referido evento a maior conferência europeia sobre uma área que Poiares ajudou a erguer em Portugal e continua a aconselhar a nível comunitário, sabe o SOL que a sua ausência foi indagada junto das partes europeias.

Ao que o SOL também apurou, a co-organização entre o Governo e a Comissão Europeia concedia ao Executivo liderado por António Costa poder de decreto sobre as presenças no evento. O SOL questionou por escrito o gabinete do primeiro-ministro sobre alguma posição que tenha tomado acerca da comparência do professor Poiares Maduro, mas de São Bento não chegou qualquer resposta.

Da parte de Bruxelas, o porta-voz da Comissão Europeia, Margaritis Schinas valorizou o relatório coordenado pelo académico português como «contribuição para o pensamento da Comissão Europeia» em torno da Inovação Social, «assim como o contributo de outros tantos especialistas e académicos que, infelizmente seria impossível incluir totalmente» na conferência desta semana. Se a Comissão recomendou ou sugeriu ao Governo o nome de Maduro para estar presente no evento, o gabinete do porta-voz europeu optou por não responder, não deixando de ser peculiar que o homem que está a coordenar o seu relatório estratégico sobre Inovação Social não esteja na maior conferência sobre Inovação Social da Europa. O evento contou com cerca de 1500 inscritos.

O ex-ministro também se encontrava incontactável. 

Costa fala contra o protecionismo

A Europa como arma maior contra o populismo foi a mensagem que António Costa procurou transmitir na conferência referida, ocorrida nas passadas segunda e terça-feira. Para o primeiro-ministro, o projeto europeu é portador de «um modelo único» de paz, liberdade e prosperidade partilhadas. O líder do PS defendeu também que as noções de competitividade (económica) e solidariedade (social) não deveriam ser separadas ou tomadas como opostas. «Não há uma alternativa entre investir na solidariedade e investir na competitividade», disse, afirmando que estes dois pilares europeus se reforçam «mutuamente».

Entre a criatividade do empreendedorismo e as necessidades da população, Costa estabeleceu novo paralelo como motor da temática geral: a Inovação Social.

«Neste momento, sabemos bem que uma estratégia de competitividade assente no ‘dumping’ social, no ‘dumping’ fiscal e no ‘dumping’ ambiental é um fator de empobrecimento coletivo da nossa capacidade económica e sobretudo que mina a coesão das sociedades», tornou a buscar o equilíbrio a meio da ponte, não deixando de atacar a «tentação protecionista» dos populismos.

Marcelo quer que a inovação chegue à política

O Presidente da República, que também falou na Gulbenkian sobre Inovação Social, propôs uma lógica de reciprocidade distinta entre esta área e a atividade política. «A inovação social tem de chegar à política. Não é possível que haja jovens a inovar na Educação, na Ciência, na Saúde, nas instituições sociais e os sistemas políticos continuem obsoletos, ultrapassados, incapazes de inovação», apontou Marcelo Rebelo de Sousa, também constitucionalista e ciente das características do sistema político contemporâneo.

«Os partidos, os sindicatos, o patronato e as estruturas administrativas não são capazes não só de inovar, como de se ajustarem à inovação da sociedade, e isso frustra os inovadores», observou o chefe de Estado, que considera esse o «grande desafio». «Esse é um apelo que faço a mim mesmo, todos os dias, mas que devemos fazer a todos os que têm responsabilidades políticas: mais inovação», rematou.