Portugal continua pouco competitivo

Ausência de reformas estruturais, excesso de dívida e de crédito malparado, aliados a uma diminuição do FDI deixam o país impreparado para o próximo ciclo de desaceleração.

Na análise à conjuntura e à estrutura da economia mundial, e com um foco mais localizado, João César das Neves aponta que «a falta de reformas estruturais em certas zonas, como a Europa e Portugal, indicam que a oportunidade de taxas de juro baixas foi bastante desperdiçada».

Uma situação ainda mais premente uma vez que o professor universitário considera «essencial, em muitas zonas (Europa e Portugal) acabar de limpar os problemas financeiros, como excesso de dívida e crédito malparado». 

Também João Duque afirma que para mitigar os efeitos de uma nova crise é necessário no «espaço nacional reduzir a dívida do Estado e das famílias» uma vez que, «e bem», a da «banca e a das empresas tem sido reduzida por pressão ou por decisão de gestão». 

O professor do ISEG vê «com muita preocupação» o futuro da zona euro e da União Europeia   devido aos «baixos níveis de crescimento que temos e pela dispersão de políticas». 

Por seu lado, César das Neves aponta as mudanças políticas, «a eventual saída da Grã-Bretanha altera significativamente todo o xadrez interno da União, tal como também o fazem as fortes mudanças do quadro político», como os desafios do futuro  e considera que só «quando as coisas acalmarem e se consiga vislumbrar o novo xadrez, é possível fazer previsões». 

Alheamento 

Instado a comentar o Orçamento do Estado para 2018 ,tendo em conta estas evoluções, responde: «Parece-me bastante alheio a todos estes problemas. Está centrado na impossível combinação de anular o défice e cumprir as exigências dos principais grupos de pressão». Claro que «assim não tem tempo nem espaço para tratar da conjuntura e das necessidades concretas da economia» do século XXI. 

Já João Duque considera que o OE 2018 foi feito «com a ideia de que as coisas vão mudar. Daí a pressa de Mário Centeno sair daqui antes que o ciclo vire e se demonstre que afinal o mérito do orçamento equilibrado é da conjuntura económica, como avisa Bruxelas…».

Ao SOL, Eduardo Silva aponta que para Portugal a «real preocupação é o longo prazo. O foco terá que recair no próximo ciclo de desaceleração, que pode acontecer daqui a cinco ou dez anos».  O gestor da corretora XTB questiona: «Estaremos competitivos nessa altura? Se hoje crescemos pouco e abaixo da média europeia e sentimos o impacto dos juros, quando o crescimento abrandar e os juros aumentarem, corremos o risco de voltar a sentir dificuldades de financiamento no mercado». 

Tecnologia e formação 

Segundo o especialista, «uma maior aposta em tecnologia, infraestrutura, formação e legislação laboral mais flexível» são vitais para assegurar uma maior competitividade. Eduardo Silva acrescenta que é no «comparativo com o resto da Europa que percebemos que não somos realmente competitivos» e que se está a «perder espaço para os países da Europa de Leste». 

O analista lembra que a «Europa tem nove países no top 25 do índice FDI (Investimento Direto Estrangeiro) e Portugal «não está nem próximo dos valores desses países».