Honduras. Sem presidente oficializado, polícia recusa implementar recolher obrigatório

Recontagem dos votos numa eleição presidencial renhida deixou o país em suspenso. Divisão anti-motins não quer tomar partido

Realizadas no final do mês passado, as eleições nas Honduras continuam a braços com um desfecho incerto. O atual presidente, Juan Orlando Hernández, reivindicou a vitória sobre o candidato da esquerda, Salvador Nasralla, mas os valores muito próximos entre os dois candidatos – pouco mais de 1,5%, de acordo com a informação apresentada no website das autoridades eleitorais – obrigaram a uma recontagem dos votos, que continua sem resultar no anúncio de um vencedor.

A situação de incerteza e as acusações de irregularidades nas urnas a favor do candidato da direita levaram milhares de apoiantes das duas fações a envolver-se em confrontos nas ruas – há registos de pelo menos três mortos –, aos quais o governo hondurenho respondeu com a implementação de um recolher obrigatório.

Esta terça-feira, porém, a divisão anti-motim da polícia nacional – os “Cobras” – decidiu fazer greve e não levar a cabo as ordens de Hernández, por considerar que ao fazê-lo está a tomar partido pelo presidente. “Estamos a rebelar-nos e apelamos a todos os polícias do país para agirem segundo a sua própria consciência”, disse à Reuters um dos 200 agentes que se reuniram à porta da sede policial. “A nossa população é soberana. Não os podemos confrontar e reprimir os seus direitos”, acrescentou outro “Cobra”.

Monitores da Organização dos Estados Americanos (OAS) revelaram ter registado “irregularidades, erros e problemas sistemáticos” durante o ato eleitoral de 26 de novembro, pelo que a entidade responsável pela realização das eleições nas Honduras decidiu recontar cerca de 6% dos votos, um número que tanto a oposição a Hernández, como a própria OAS consideram “insuficiente”.