Um poço sem fundo: Brexit e a Irlanda do Norte

O radicalismo parece ser a linguagem que melhor colhe nestes dias. 

Já nem falo do menino brigão que quer atiçar uma guerra no Médio Oriente, mas no desconcerto do RU cada vez mais afundado no poço sem fundo do Brexit e puxado para esse mesmo fundo pelos políticos mais radicais.

Theresa May deveria estar hoje em Bruxelas a tentar resolver o imbróglio em que o DUP, seu parceiro de coligação, ensarilhou o país. Não está. Em vez disso, está a tentar resolver outro drama, outra fogueira, outro incêndio no seu partido. Agora os conservadores Brexiteers de linha dura estão a alinhar com o DUP e querem a Irlanda do Norte separada da República da Irlanda.

Pretendem a reposição de postos fronteiriços, controlo de pessoas e bens, existência de câmaras, enfim, a reactivação de uma fronteira terrestre de 500 quilómetros que estava praticamente invisível e que milhares de pessoas atravessam todos os dias. Milhões de litros de leite e de cerveja Guinness produzida em Dublin passariam assim a ser escrutinados por guardas britânicos.

Compreendem-se as dificuldades de manter a fronteira aberta no pós-Brexit, (depois de 2019). Contrabandistas, refugiados e imigrantes entrariam com facilidade no território da Irlanda do Norte. Mas, por esta via, sacrificar-se-á sem mais a paz que tanto custou alcançar com os acordos de paz (ou acordos de Sexta Feira Santa, por terem sido assinados nesse dia), em Belfast, em 1998. Desde 1998, que os ditos acordos trouxeram relativa paz à Irlanda do Norte e a desmilitarização do IRA, muito embora os irlandeses carreguem na memória o período de guerra que afectou a região por trinta anos.

O fantasma da guerra continua no ar, as cidades não escondem as suas simpatias católicas ou protestantes. E o terreno é mais que propenso à reactivação dos grupos mais extremistas.

É também bom não esquecer que a Irlanda do Norte votou maioritariamente (44 por cento do eleitorado) para permanecer na União Europeia e com o ressurgimento da fronteira rígida ficará excluída do espaço económico europeu.

Escritora a viver em Londres desde 2005