RD Congo. País vive crise humanitária pior que a do Médio Oriente

O país tem quatro milhões de pessoas deslocadas e sete milhões com dificuldades em se alimentarem

A crise humanitária que se vive na República Democrática do Congo é uma “megacrise” ainda maior do que a que se vive no Médio Oriente. Quem o disse foi a diretora do Conselho para os Refugiados Norueguês, uma agência humanitária, Ulrika Blom. “É uma megacrise. A escala do número de pessoas a fugir da violência superou todas as expetativas, ultrapassando a Síria, Iémen e Iraque”, pode ler-se no comunicado de imprensa. “Pelo segundo ano consecutivo, a RD Congo é o país mais afetado pelo deslocamento de pessoas no mundo”, complementou.

A opinião é partilhada por outra agência que recolhe informações sobre as várias crises humanitárias que decorrem atualmente por todo o mundo, a Internal Displacement Monitoring Centre (IDMC). No seu último relatório, o IDMC afirma que uma média de 5500 pessoas fugiram por dia das suas casas no Congo ao longo deste ano, um número recorde para um país assolado pelos conflitos armados, fome, doenças e, consequentemente, por crises humanitárias. No total serão cerca de quatro milhões de pessoas deslocadas, bem como mais de sete milhões que se debatem com dificuldades em se alimentarem. “Se falharmos em intervir agora, a fome em massa irá espalhar-se e pessoas irão morrer. Estamos numa corrida contra o tempo”, alertou a norueguesa.

A RD Congo possui vastos recursos naturais valiosos para a economia mundial, mas confronta-se há vários anos com conflitos armados que têm devastado o país e a sua população.

Em 2001, o presidente Joseph Kabila tomou posse na sequência do assassinato do seu pai, Laurent-Désiré Kabila, e manteve-se no cargo por ter ganho duas eleições presidenciais consecutivas. Contudo, os seus críticos acusam–no de atrasar as próximas eleições para se manter indefinidamente no cargo – a Constituição congolesa impede-o de se candidatar a um terceiro mandato.

No ano passado, o governo encetou operações militares contra movimentos políticos que considera rebeldes, como é o caso na região central de Kasai, por se ter recusado a reconhecer a eleição de um chefe tradicional. Desde esse momento que pelo menos 400 pessoas já morreram na sequência de conflitos armados.