PSD ainda à espera de um líder

O partido aguarda que os candidatos coloquem as cartas na mesa. A pouco mais de um mês para haver novo líder da Oposição, pouca oposição se tem feito. Será mesmo assim?

Faltam 36 dias para as eleições diretas do PSD e não há ainda favorito. A extensão da corrida até janeiro do novo ano, em vez de já para este dezembro, não prejudicou o embalo que Rui Rio trazia nem, contrariamente ao previsto, proporcionou a Pedro Santana Lopes ganhar-lhe vantagem. O antigo provedor da Santa Casa galgou terreno naturalmente por percorrer sem crescer além do seu adversário.

Devendo a disputa acelerar depois do tempo festivo, há receios internos de que os candidatos vacilem na transição da corrida interna para a liderança de Oposição. As críticas ao Governo têm sido escassas ou vítimas de mau timing e a semelhança entre os temas dos candidatos (reforma fiscal, reforma da segurança social, reforma da coesão territorial, por exemplo) não ajudam nem a demarcação entre si nem à cativação dos militantes. O facto de não quererem mimetizar a mesma tensão de Pedro Passos Coelho com António Costa trava algum disntanciamento. A marcação entre cada apoio continua a suceder-se. «É natural», diz um dos deputados do PSD que ainda não tomou posição sobre quem sucederá a Passos. «Rio preparou-se para ser candidato contra Passos – para ser um anti-Passos – e agora tem um oponente que não ele. Santana não se preparou para nada porque não esperava ser candidato», analisa, mostrando que a ausência não parte necessariamente das virtudes ou deméritos de cada candidato, mas de o candidato que todos esperavam ver (ou enfrentar) – Pedro Passos Coelho – não estar. «Passos deu-lhes todo o espaço mediático. Saiu de cena. E nenhum deles conseguiu preencher esse espaço. Oposição? Pouca. Ideias novas? Poucas», lamenta o mesmo. Em entrevista a este jornal, Nuno Morais Sarmento, que é o braço-direito político de Rio nesta campanha, desvaloriza essa noção de vazio programático. «Chegou-nos muito das campanhas internas feitas em outros partidos?», pergunta, retoricamente, e relembrando as primárias entre Costa e António José Seguro, no PS. À data, em 2013, a mobilização entre socialistas (até por ser uma escolha aberta à sociedade civil) garantiu outro suporte mediático que o verificado este outono no PSD. 

Santana, em reação à apresentação da comissão de honra de Rui Rio, recheada de notáveis veteranos do PSD, deixou claro em sessão de militantes. «Até agora, tenho pedido e olhado para esta campanha no sentido de ‘clarificar’. Essa clarificação [sobre o que cada um quer para o partido] está dada». Faltando ver a que corresponde a próxima etapa. 

Marco António, ausente ou omnipresente? Tão discreto quanto Pedro Passos Coelho, tem sido Marco António Costa, seu vice-presidente que anunciou não pretender cargos executivos a nível interno depois de Passos anunciar a saída. ‘MAC’, como é conhecido entre os laranjas, tem surgido mediaticamente enquanto presidente da Comissão Parlamentar de Defesa. Sobre as diretas do partido, nem uma palavra, aliás como os restantes vice-presidentes de Passos Coelho. Marco António, no entanto, não deixa de ter larga influência na estrutura partidária e a sua discrição tem lançado dúvidas. O facto de Miguel Santos (vice-presidente do grupo parlamentar, seu próximo) e de Vírgilio Macedo (deputado, também seu próximo) estarem cada um com cada candidato tornou a deixar pontos de interrogação sobre um posicionamento futuro. «Ele conhece bem os dois [Rio e Santana] e obviamente que não é pessoa de andar alheada das coisas. Nunca foi», diz ao SOL, sob reserva, outro senador do norte. «Não quis estar na liderança de bancada, não quer cargos executivos e agora não apoia ninguém para a liderança, portanto das duas uma, ou tinha saudades de exercer [advocacia] ou está cheio de trabalho na Comissão de Defesa», pondera o mesmo. Se está mais ausente ou ainda omnipresente, não há concórdia. 

Lembrando Sá Carneiro A memória do fundador do PPD/PSD é algo que, por outro lado, não tem estado em falta na eleição para a liderança do PSD. Santana tem o seu ‘sácarneirismo’ característico – e apoios simbólicos como Conceição Monteiro, que foi secretária pessoal do político – e Rio também tem prestado tributo.

Esta semana, estiveram ambos presentes na missa em memória de Sá Carneiro, celebrada devido ao aniversário da sua morte, em 1980. Pedro Passos Coelho também esteve, assim como o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa – algo inédito nas chefias de Estado. Para o Instituto Francisco Sá Carneiro, os dois candidatos à liderança do PSD enviaram um testemunho. Rio dizendo que aderiu ao partido por ser aquele em que estava Sá Carneiro e destacando a «sua convicção».«Era o que mais me atraía nele. Convicções tais que diversas vezes não tinha problema nenhum em ficar sozinho. A sua história no PSD foi atribulada por causa disso: a firmeza das suas convicções», elogiou. A outra qualidade elevada pelo ex-presidente da Câmara do Porto foi «a seriedade» de Sá Carneiro. «Incapaz de dizer hoje uma coisa e amanhã fazer outra. Se isso era marcante na altura a seguir ao 25 de Abril, como não seria hoje marcante na sociedade portuguesa, em que as convicçôes andam muitas vezes pela rua da amargura, muitos servindo mais os seus interesses do que os interesses públicos», atirou também. 

A vitória sobre a esquerda Santana, que foi assessor jurídico de Francisco Sá Carneiro, lembrou o fundador do partido como «alguém que ficou para sempre com todos os portugueses», que fora muito criticado durante o tempo de vida pelos seus adversários, mas depois recordado «com muito respeito, como um grande estadista». «E ele nunca se importou. Foi sempre ao combate, manteve sempre os seus princípios e os seus valores». 

O candidato, que esteve também numa sessão de evocação de Sá Carneiro em Barcelos, optou por saudar o seu oponente, na data que assinalou a perda do homem que levou ambos a assinarem a ficha do PPD. 

Em Barcelos, Santava teve sala composta, com discursos da mandatária local para a juventude e também de Carlos Eduardo Reis, dirigente nacional do partido, que lembrou que «Pedro Santana Lopes é o único que já derrotou uma frente de esquerda em Portugal», remetendo para vitória do PSD em Lisboa contra a coligação de João Soares com o PCP, em 2001. Reis, que tem sido voz ativa na equipa de Santana, valorizou ainda os apoios autárquicos que a candidatura tem reunido. «Se há alguém que sabe quem pode ganhar o país são os presidentes de Câmara que venceram eleições em outubro passado», concluiu o social-democrata de Barcelos.