Catalunha. Independentistas em risco de perderem a maioria

Um dia depois de mais de 45 mil catalães se terem manifestado em Bruxelas pela independência, uma sondagem mostra que o bloco independentista pode perder a maioria absoluta que tem até agora no Parlamento.

Catalunha. Independentistas em risco de perderem a maioria

A 12 dias das eleições para o Parlamento da Catalunha, o eleitorado está dividido a meio. Segundo a última sondagem publicada na sexta-feira pelo site El Nacional, os três partidos que defendem a independência da Catalunha estão no limiar de perder a maioria absoluta de deputados: ERC, JxCAT e CUP obteriam de 66 a 70 deputados, sendo que o número que garante a maioria é de 68 deputados. O que significa que, segundo a sondagem, têm menos dois deputados que obtiveram nas eleições de 2015, quando ERC e os setores que agora se agrupam JxCAT, de Puigdemont, concorreram juntos. 

Segundo este estudo eleitoral, a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), dirigida pelo vice-presidente do governo catalão, atualmente na cadeia, Oriol Junqueras, obteria de 33-35 lugares no Parlamento, seguido de perto pelos espanholistas dos Ciudadanos, liderados por Inés Arrimadas, que conseguiriam 30 a 32 lugares, subindo bastante em relação aos 25 que tinham obtido nas eleições de 2015.

Por blocos, os espanholistas (Ciudadanos, Partido Socialista da Catalunha e Partido Popular) obteriam 43,7 % dos votos, conseguindo de 56 a 59 deputados, e o bloco independentista atingiria 47,21% dos sufrágios, ficando com entre 66 e 70 deputados, num Parlamento que a maioria absoluta se obtém com 68 mandatos. 

Neste estudo eleitoral, a maior queda em número de deputados seria do Partido Popular, dirigido em Madrid pelo presidente do governo, Mariano Rajoy, que veria passar para quase metade a sua representação parlamentar, de 11 para 6 deputados.

A verificarem-se estes resultados, o setor afeto ao Podemos e à presidente da Câmara Municipal de Madrid, Ada Colau, poderia ter, na ausência de maioria absoluta de cada um dos dois blocos, a chaves de quem poderia governar a  Catalunha. A força política encabeçada por Xavier Domènech obteria 7,9% dos votos, conseguindo de 9 a 10 deputados, próximo dos 11 que obteve em 2015.

Essa circunstância, e atendendo que a área política dos Comuns e do Podemos são de esquerda, favoráveis a um referendo sobre a autodeterminação, mas maioritariamente contra a independência (segundo os estudos do CEOP, apenas 33% dos seus eleitores desejam um Estado Catalão Independente), isso abriria caminho a várias hipóteses de Governo distintas. Sendo praticamente impossível que a área do Podemos participe num Governo espanholista com PP e Ciudadanos, a coligação dirigida por Domènech pode tentar forçar um Governo de esquerda apoiado por ERC, CUP, PSC e a área do Podemos, o que, no entanto, parece, dado as posições comuns dos socialistas com os Ciudadanos e  PP, quase impossível. A solução que parece mais provável, é que a área do Podemos viabilize um Governo do bloco independentista, em troca da garantia que a questão da independência só seria novamente colocada em cima da mesa quando fosse possível fazer um referendo sobre essa matéria com o acordo do Parlamento de Madrid, e que, até essa altura, os partidos independentistas teriam de negociar os termos da autonomia com Madrid. 

Supremo recua

O outro dado importante desta semana foi a retirada do pedido de entrega à justiça espanhola do chefe do governo catalão, Carles Puigdemont, e dos outros membros do Governo que se encontram em Bruxelas. Recorde-se que estava previsto que a justiça belga se pronunciasse em relação a este pedido de entrega a 14 de dezembro. Um dos cenários mais prováveis era o juízes belgas não aceitarem as acusações de «rebelião» e de «sedição», que fundamentavam parte do pedido, o que poderia ter consequências políticas e jurídicas graves para o Estado espanhol: Por um lado seria, a uma semana de eleições, uma desautorização das acusações feitas aos independentistas; por outro lado, faria com que os acusados que estão em Bruxelas fossem julgados por crimes muito menos graves, que os seus colegas de governo que ficaram em Espanha. Perante essa possibilidade, o Supremo não arriscou.