Marcelo pede ‘juízo’ ao Governo

Mário Centeno garantiu que ‘não muda nada na política em Portugal’, mas o Presidente não esconde as suas dúvidas.

Marcelo pede ‘juízo’ ao Governo

Umas horas após a eleição para a presidência do Eurogrupo, nesta segunda-feira, Mário Centeno garantiu que «não muda nada na política interna em Portugal», mas parece não ter convencido o Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa avisou Centeno, mais do que uma vez, de que «nunca se pode esquecer que é ministro das Finanças de Portugal».

O alerta de chefe de Estado é acompanhado pelo receio de que o próximo orçamento, em ano pré-eleitoral, implique um empenhamento adicional do ministro das Finanças. O chefe de Estado avisou, antes e depois da eleição, que o país não pode perder «o rumo em matéria financeira» e «há que continuar a ter muito juízo na linha definida e não ter aventuras”. 

A ida de Centeno para a presidência do Eurogrupo, a partir do dia 13 de janeiro, vai implicar mexidas no Ministério das Finanças. Os socialistas desdramatizam, porém, as consequências que a eleição do ministro português possa vir a ter para o país. «Não me parece que se justifique um receio tão intenso», diz ao SOL Vitalino Canas, coordenador do PS na comissão parlamentar dos Assuntos Europeus. Canas argumenta que «este cargo não implica atenção permanente» e que  «temos de ter em consideração que o ministro Mário Centeno é ministro há dois anos e, portanto, já ganhou uma experiência grande. Vai implicar um grande esforço pessoal para o ministro que provavelmente vai trabalhar mais horas». 

O deputado socialista admite que Centeno poderá «desconcentrar algumas funções», mas não vê drama nisso porque tem «uma equipa na qual tem confiança». 

O deputado socialista Pauto Trigo Pereira, que integrou a equipa dos economistas liderada por Centeno que preparou o programa do PS, também admite que «as necessidades ainda grandes do país em matéria de finanças públicas exigem alguma alteração no modo de funcionamento da equipa das finanças, pois a disponibilidade para assuntos nacionais será menor».  O economista admite mesmo, num texto que escreveu na sua página do Facebook sobre a eleição, que «há algum risco nesta eleição que é precisamente a menor atenção aos assuntos nacionais, mas a política é feita de riscos e há o risco de sinal contrário de deixar marca positiva nas decisões do Eurogrupo». 

A eleição de Centeno foi festejada pelo Governo. «Significa o reconhecimento da credibilidade de Portugal», disse António Costa. A direita também aplaudiu. As maiores reservas surgiram dos partidos à esquerda do PS. João Ferreira, eurodeputado comunista, afirmou mesmo que «não representa uma decisão positiva para a defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo português».