Imobiliário. Housers entra em Portugal e promete mudar o mundo de quem quiser investir 50 euros

A ideia desta plataforma é conseguir ser a primeira comunidade de financiamento participativo do imobiliário do sul da Europa

A Housers, plataforma de financiamento imobiliário, promete mudar a forma como os portugueses olham para as oportunidades de investimento. Com o objetivo de captar 11 mil utilizadores num ano e um investimento de 3,5 milhões de euros, a ideia da empresa era, em outubro, conseguir financiar a compra de cerca de 15 imóveis em Lisboa e no Porto.

Já com 68 mil utilizadores e 32 milhões de euros investidos em 167 imóveis, a plataforma pretende dar uma alternativa a quem pretende investir no ramo do imobiliário, bastando para isso ter apenas 50 euros na carteira. Um dos sócios fundadores, Álvaro Luna, explicou em outubro, através de um comunicado, que “a expansão para Portugal é um passo importante na estratégia a médio prazo para nos convertermos na primeira comunidade de financiamento do setor imobiliário do sul da Europa”.

A questão que muitos podem estar a colocar nesta altura é: como funciona? Fácil. Basta ter 50 euros, que é o valor mínimo de investimento, fazer um clique no site e passar a ser “proprietário” de uma das casas. A ideia da plataforma é recolher dinheiro de investidores anónimos para comprar imóveis nos centros de várias cidades. A contrapartida? A ideia é que tudo isto seja feito a troco de uma determinada rentabilidade que acaba por variar em função do ativo em questão.

A Housers é, na verdade, fruto da ideia de dois sócios: Álvaro Luna e Tono Brusola. E nasceu da necessidade de “democratizar o investimento imobiliário e que toda a gente pudesse ter acesso a um património”.

Ao i, João Távora, CEO da Housers, explica que o projeto “arrancou em 2016. Mas, no início, era apenas uma experiência. Começámos em Espanha, depois Itália e, agora, o nosso principal objetivo é Portugal. Esperamos conseguir 11 mil utilizadores”.

Para quem possa ser mais desconfiado, João Távora garante que as regras são apertadas: “Temos de cumprir regras de branqueamento de capitais. As rentabilidades são estimadas mas, no limite, se não fizermos bem as contas, perdemos. A garantia é maior porque há um ativo. No fundo, estamos a competir com outros produtos financeiros.”.

Mas se há tetos mínimos para o investimento, também há limite máximo. De acordo com o CEO da plataforma, um investidor não qualificado pode investir até três mil euros. Já no caso de ser qualificado, passa a não existir qualquer limite. Também em termos de documentação, João Távora garante que não podia ser mais fácil. Basta um documento de identificação, uma conta associada e pouco mais.

“É um sistema muito rígido e seguro para os investidores”, já tinha explicado Álvaro Luna, há uns meses. “Às pessoas que querem investir no imobiliário, mas não têm capital suficiente para fazê-lo, damos-lhes a possibilidade de que invistam com uma aportação mínima de 50 euros”, explica Luna.

Imobiliário está na moda

De acordo com os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), Lisboa, Cascais, Loulé e Lagos são os municípios onde os preços praticados são agora os mais altos. Mas não são os únicos, tendo em conta que há mais de 40 acima da mediana.

“O município de Lisboa apresentou o preço mais elevado (2231€/m2) e com valores acima de 1500€/m2 destacavam-se ainda os municípios de Cascais (1800€/m2), Loulé (1650€/m2) e Lagos (1555€/m2)”, explica o INE, acrescentando ainda que “no segundo trimestre de 2017 (últimos 12 meses), o preço mediano de alojamentos familiares em Portugal foi de 896 euros por metro quadrado”. De destacar ainda que, olhando ao pormenor para Lisboa, as freguesias de Santo António e da Misericórdia são, de longe, as que registaram os preços medianos mais elevados. Os preços são de 3294 e 3244 euros por metro quadrado, respetivamente, e representam as maiores subidas homólogas.

A análise do gabinete de estatísticas evidencia ainda que, comparando os preços da habitação ao nível local tendo em conta as transações feitas entre julho de 2016 e junho de 2017, os preços mais baixos dizem respeito à serra da Estrela, Beiras, Alto Alentejo e Baixo Alentejo.

O destaque divulgado pelo INE mostra ainda que existem atualmente em Portugal 41 municípios com preços acima da mediana e há zonas, como o Algarve, por exemplo, em que apenas dois concelhos ficam abaixo do valor nacional: Monchique e Alcoutim.

Mais: além dos 41 municípios com valor acima dos 896 euros por metro quadrado, existem 79 cujo preço se fixa já entre 600 e 896 euros. Fazendo a análise por regiões, o INE destaca os preços praticados na Madeira, Área Metropolitana de Lisboa e Algarve, todas com preços acima dos que são registados no resto do país.

A verdade é que o preço das casas em Portugal tem vindo a subir acima da média europeia. No início deste mês, os dados revelados pelo Eurostat mostravam que o preço das casas em Portugal continuou a aumentar acima da média durante o segundo trimestre do ano, quer em termos homólogos quer face ao trimestre anterior.

A análise destacava um aumento de 1,5% na zona euro e 1,8% na União Europeia, face ao primeiro trimestre, com Portugal a registar uma subida de 3,2%.

Na comparação em cadeia, face ao primeiro trimestre deste ano, as maiores subidas entre abril e junho foram registadas na Letónia (6,1%), Eslováquia (5,6%) e Roménia (4,9%) – protagonizando Portugal a oitava maior subida –, enquanto os maiores recuos nos preços tiveram lugar na Hungria (-1,5%) e Bélgica (-0,7%).

Já na comparação com o segundo trimestre de 2016, as maiores subidas foram observadas na República Checa (13,3%), Irlanda (10,6%) e Lituânia (10,2%), tendo Portugal a sétima maior subida, enquanto os preços recuaram ligeiramente em Itália (-0,2%).

O aumento do preço das casas em Portugal tem sido de tal ordem que já fez com que Bruxelas tomasse posição. Em maio deste ano, a Comissão Europeia mostrou-se preocupada por considerar que a valorização acentuada do imobiliário pode estar a causar desequilíbrios na economia. A preocupação tem vindo a reforçar-se a par da subida dos preços que, em 2016, chegou ao limite a partir do qual se considera que é preciso ficar atento a possíveis desequilíbrios.

Mas nem só o INE alerta para o aumento dos preços quando o tema é a habitação. De acordo com o estudo Main Streets Across the World 2017, as rendas no Chiado, por exemplo, sofreram uma subida de 15%. E a zona ocupa já a 33.a posição do ranking das zonas mais caras do mundo. Em primeiro lugar aparece a 5.a Avenida, em Nova Iorque, seguida de Causeway Bay, em Hong Kong. O terceiro lugar vai para a New Bond Street, em Londres, que fica agora à frente dos Campos Elísios, em Paris.