Sogras!

Só a palavra sogra faz tremer qualquer um. A mim faz-me lembrar línguas da sogra, que se enrolam nelas próprias de tanto falarem mal. As difíceis relações com as sogras são um problema de partilhas. Fazem lembrar o jogo da corda: cada um puxa para o seu lado para ver quem ganha. É um jogo…

Só a palavra sogra faz tremer qualquer um. A mim faz-me lembrar línguas da sogra, que se enrolam nelas próprias de tanto falarem mal.

As difíceis relações com as sogras são um problema de partilhas. Fazem lembrar o jogo da corda: cada um puxa para o seu lado para ver quem ganha. É um jogo muito exigente porque ambos os lados são muito fortes. Pode ser extenuante. Não se pode largar a corda, quem largar cai e lá vai arrastado até onde a força do adversário o levar. Numa ponta está a sogra, claro, na outra a nora ou genro, e a corda é o desgraçado do filho/marido ou filha/mulher, todo esticadinho ou esticadinha, a querer agradar a gregos e troianos sem ferir suscetibilidades.

As ‘sogras’, na verdadeira aceção da palavra, não são mães, são mãezinhas, que, por uma razão ou por outra, não permitiram que o filho se tornasse independente. Assim, o filho quando casa não assume o papel de marido e continua sob a alçada da mãe. De repente o cônjuge vê-se também a andar sob as ordens da matriarca, o que naturalmente não consegue tolerar. Já tem a sua família e ali quem manda é ele.

Normalmente as sogras mães de rapazes são mais difíceis, porque a relação entre mãe e filho costuma ser mais intricada e os rapazes têm mais dificuldade em tornar-se independentes. Por outro lado, as noras também têm mais pêlo na venta e são mais senhoras do seu nariz e das suas coisas do que os genros.

No caso das mãezinhas, o filho pode ter 50 anos que a roupa continua a ir lá para casa para lavar, é ela quem melhor conhece o filho e a única que sabe cuidar verdadeiramente dele, compra-lhe os medicamentos quando está doente e liga 300 vezes por dia a dar indicações, passando um atestado de incompetência à nora, que deixa a janela aberta que constipa o filho ou não faz comida suficiente, deixando-o débil e aí por adiante. Sogra que se preze aparece sem aviso, abre armários na casa que julga ser sua e critica o que está lá dentro, manda indiretas desagradáveis à nora, obriga todos a fazer o que ela quer, preocupa-se quase só consigo, um pouco com o filho e vê a nora como uma peça de mobiliário no sítio errado, que ainda para mais não foi ela que escolheu.

Esta é uma luta silenciosa em que as frentes não se enfrentam e comunicam através do marido-filho, que não quer destruir o casamento mas também não consegue confrontar ou desiludir a mãe. É um jogo de cintura muito difícil, que pode durar para sempre ou acabar mal.

Felizmente nem todas as sogras são ‘sogras’! A seguir ao casamento há todo um processo de ajustamento de papéis. Há um elemento novo que entra e é importante ir afinando e definindo com tato e vagar o lugar de todos para que ninguém se sinta ameaçado. Digo de experiência própria que quando assim é esta relação a três só pode ser uma mais-valia e enriquecer toda a família.

Daqui a uns anos posso vir a ser quatro vezes sogra e a ter quatro noras. Credo! É melhor aproveitar enquanto ainda não me cabe o papel de má da fita.

 

* Psicóloga clínica

filipachasqueira@gmail.com