Adoções ilegais. “Netos” do chefe da IURD roubados em Portugal

O movimento liderado por Edir Macedo dirigia a partir de Lisboa uma rede de adoções ilegais. Crianças eram roubadas para membros da igreja

Uma série informativa da TVI intitulada “O Segredo dos Deuses”, que começou ontem a ser emitida, revela que a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) teve, na década de 90, um lar de crianças em Lisboa que alojou várias crianças roubadas às mães, destinadas a uma rede internacional de adoções ilegais. Entre as crianças roubadas estão os “netos” do líder da IURD, Edir Macedo.

A história começa na década de 70. Nessa altura, quando a IURD dava os primeiros passos, os bispos e os pastores da igreja ainda podiam ter filhos. Mas tudo mudou nos anos 90, quando a igreja crescia a passos largos – altura em que chegou a Portugal – e Edir Macedo decidiu alterar a estratégia, obrigando pastores e bispos a serem submetidos a vasectomias para não poderem ter filhos.

Segundo a investigação da TVI, com cada vez mais membros na igreja, filhos significavam um gasto extra. Além disso, o líder queria todos focados na espiritualidade com o objetivo final de fazer “crescer a oferta” – leia–se os donativos dos fiéis.

A imposição chegou a Portugal, onde o procedimento era proibido para homens que não tivessem filhos e com idade inferior a 25 anos. Era, claro, feita clandestinamente aos membros da IURD.

Viviane Freitas, a filha mais nova do líder da IURD, não podia ter filhos porque o seu marido, Júlio Freitas, é bispo da igreja e foi submetido a uma vasectomia. Essa situação levou a nova mudança de visão por parte do fundador da igreja, que começou então a incentivar adoções.

É então que a IURD abre, em 23 de maio de 1994, o Lar Universal, em Camarate (Lisboa). O objetivo era que pastores e bispos de todo o mundo recorressem a essa instituição para adotarem as crianças que a igreja os impedia de conceber.

Um dia, Edir Macedo veio a Portugal para conhecer o lar de crianças e apaixona-se imediatamente por duas crianças pequenas, os irmãos Vera e Luís.

Os irmãos tinham chegado ali pela mão da Segurança Social – apesar de aquele ser um lar ilegal e de não haver qualquer tipo de fiscalização por parte da entidade competente –, que os tinha retirado à família devido às dificuldades por que esta passava. A instituição chegou mesmo a dizer à mãe que tinha sida para a descredibilizar, algo que acabaria por se espalhar por quem conhecia a família. A Segurança Social acusava também pai e mãe de serem toxicodependentes. Tudo para manchar a imagem de uma mãe que é, aliás, dadora de sangue.

Na reportagem da TVI, a mãe das crianças conta que as visitava frequentemente, mas raras foram as vezes que assinou o livro de visitas – uma prova determinante em tribunal pois, caso os pais não assinem o livro durante seis meses, as crianças ficam disponíveis para adoção.

Numa das visitas, no dia de anos do filho, mãe e pai foram ao lar para lhe cantar os parabéns. Não o puderam fazer porque, como os informaram, as crianças já não estavam lá.

Nessa altura, as crianças estavam já nos Estados Unidos da América, onde viviam com a “mãe” Viviane e o “pai” Júlio, que as tinham escolhido depois de Edir Macedo lhes ter mostrado fotografias. Note-se que, no sistema de adoção regular, os pais não escolhem as crianças – os candidatos a pais é que são escolhidos para as crianças. Nos meses seguintes, Viviane e Júlio visitaram o lar de crianças em Lisboa – passaram até um dia com elas no shopping, como conta Viviane no seu blogue – e foi aí que decidiram adotá-las.

Como não eram portugueses, não podiam adotar por si. Foi então a secretária de Edir, portuguesa, que fez a adoção e levou as crianças num avião privado para os EUA.

A série informativa, da autoria das jornalistas Alexandra Borges e Judite França, tem dez episódios que vão ser transmitidos todos os dias úteis. Ontem, a televisão organizou um visionamento para a imprensa visto esta ser “uma reportagem superior à TVI”, nas palavras do seu diretor de informação, Sérgio Figueiredo.

Entretanto, ao i, a Procuradoria-Geral da República disse existir “um inquérito relacionado com essa matéria, tendo o mesmo sido remetido ao Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa para investigação”.


DIREITO DE RESPOSTA
“Adoções ilegais. 'Netos' do chefe da IURD roubados em Portugal

O Jornal i publicou uma notícia com o título “Adoções ilegais. 'Netos' do chefe da IURD roubados em Portugal". Na referida notícia é afirmado que a IURD dirigia uma rede internacional de adoções ilegais, que tinha um lar que alojou várias crianças roubadas às mães, destinadas a uma rede internacional de adoções ilegais e que entre essas crianças estariam os netos do líder da IURD. Todas estas afirmações são falsas, atingem de uma forma inaceitável, o bom-nome e a reputação da IURD, na medida em que a envolvem num esquema ilegal de adoções ilegais que nunca existiu.
É falso que tenha existido qualquer manipulação dos processos. Os processos de adoção não padecem de qualquer vício formal ou ilegalidade. A IURD repudia veemente a afirmação de que as crianças foram roubadas, sem mais, aos pais biológicos. A verdade é que as crianças que eram colocadas no Lar foram retiradas às famílias biológicas pelas entidades competentes por se encontrarem em situação de perigo e por não terem as condições necessárias ao seu desenvolvimento junto da família biológica.

No que respeita ao caso mencionado na notícia publicada pelo jornal SOL, não existiu qualquer roubo ou adoção ilegal. Estas crianças foram retiradas à família biológica pelas entidades competentes, por a mesma não ter condições de dar aos menores a qualidade mínima de vida exigida para uma criança. O processo em causa seguiu todos os trâmites legais, tendo sido decidido por tribunais portugueses, com o envolvimento de todas as entidades competentes, como a Segurança Social e a Santa Casa da Misericórdia e culminado na decisão de adoção dos menores. No âmbito desse mesmo processo judicial consta como tendo ficado provado que os pais biológicos dos menores eram toxicodependentes e que há cerca de cinco anos que tinham deixado de procurar os filhos após os terem abandonado em casa de uma ama. É ainda referido pelo Tribunal que enquanto os menores viveram com os progenitores habitavam uma casa sem móveis, suja, sem eletricidade e sem condições mínimas de habitabilidade e não lhes eram prestados os cuidados mínimos de saúde e alimentação.

Consta, ainda, que foi estabelecido um direito de visitas aos pais biológicos e que estes nunca o exerceram, e que todas as viagens dos menores para os Estados Unidos da América sempre foram autorizadas pelo Tribunal.
Repudiamos todas as imputações e falsas afirmações que o artigo lança sobre a nossa igreja, exigindo a reposição da verdade, para salvaguarda da reputação de todos aqueles que partilham a nossa fé.

A Direção 
João Carlos Capinha Filipe
Maria João Romão Dias