Carlos Tavares. O “car guy” promovido pela Europa

O português que lidera o Grupo PSA vai presidir a Associação de Construtores Europeus de Automóveis, já no início do próximo ano 

Carlos Tavares, de 59 anos, conseguiu levar o Grupo PSA de perdas de 5 mil milhões, em 2012, aos lucros de 1260 milhões no primeiro semestre deste ano. A recompensa chegou antes do que se podia esperar. O português vai passar a ser presidente da Associação de Construtores Europeus de Automóveis (ACEA), sucedendo a Dieter Zetsche, o CEO da Daimler.

Falamos da associação que representa as empresas do setor em toda a Europa e Carlos Tavares parece ter já um plano bem elaborado para o que serão os seus próximos passos: “As maiores prioridades para 2018 incluem a colocação em marcha de um plano para a redução das emissões de CO2, que será ambicioso, mas também realista; continuar a melhorar as condições de segurança e reforçar a competitividade da indústria automóvel na Europa”. 

A seu cargo ficam então tarefas tão importantes como estabelecer diálogos com os principais organismos comunitários para os mais diversos campos relacionados com o setor automóvel. No topo da lista dos temas que deverão ser prioritários está a tecnologia de conetividade. 

Mas afinal quem é e o que já fez este português que fica agora à frente da ACEA? O gestor português é o responsável pelo sucesso do negócio que criou um verdadeiro monstro na indústria automóvel, a fusão da Peugeot com a Opel. Conhecido por ser um apaixonado por motores e corridas, Carlos Tavares quis criar um campeão automóvel europeu em vendas e em quota de mercado. 

Carlos Tavares é o rosto que está por detrás de um dos maiores negócios na indústria automóvel, a compra da Opel pela Peugeot, dando origem a um gigante do setor, o segundo maior grupo na Europa. Quatro meses de negociações entre a General Motors (GM) e o Grupo PSA – Peugeot-Citroën foram o suficiente para que a concretização desta operação recebesse luz verde. O principal protagonista desta negociação foi então Carlos Tavares. 

A paixão pelos automóveis esteve sempre na base do sucesso profissional de Carlos Tavares. Até 2013 era o número dois da Renault Nissan, onde esteve 32 anos, mas é nessa altura que chega o convite para liderar o grupo PSA, concorrente da empresa onde trabalhava. Em 2014 mudou de rumo e arregaçou as mangas para abraçar uma nova aposta e uma nova marca. A verdade é que a escolha do gestor português para estar à frente da empresa francesa representou uma quebra na tradição dos 117 anos de história da Peugeot, que sempre escolheu o seu líder através de uma seleção interna.

Carlos Tavares nasceu em Lisboa. Filho de uma professora de Francês e de um representante de uma seguradora em Portugal, estudou no Liceu Francês, na capital, e mudou-se aos 17 anos para o país onde vive hoje, formando-se em Engenharia pela École Centrale de Paris em 1981 – uma das mais conceituadas a nível europeu. 

Mas desde cedo que foi fascinado pelo mundo automóvel e chegou a ser comissário de pista no Autódromo do Estoril. “A minha paixão era conduzir carros”, chegou a revelar em entrevista à RTP, mas, como admitiu que não tinha talento suficiente para entrar na competição, aproveitou a sua formação para experimentar carros em circuitos. Um dos engenheiros da Renault chegou a admitir ao “Le Monde” que o engenheiro português é um “das poucas dezenas de especialistas mundiais que sabem tudo sobre um carro, desde o desenho à produção, passando pelo marketing”. 

A sua paixão pelos automóveis e pelas corridas levou a que fosse apelidado de “car guy”, e ainda hoje não dispensa uma corrida de automóvel aos fins de semana. Tem em casa vários carros clássicos que usa para participar e cuja manutenção é feita pelo próprio engenheiro. Essa loucura chega ao ponto de decorar o gabinete de trabalho com fotografias de carros de competição. Pai de três filhas, é à mais velha, Clémentine, que se deve o nome da equipa pela qual corre: a Clementeam, gerida pela própria mulher.

Mas não é só por isso que é conhecido. Apesar da polémica em torno do salário anual de 5,24 milhões de euros, sempre foi visto pelas pessoas mais próximas como um verdadeiro “forreta”. E, por isso mesmo, é natural que tenha vendido o avião privado da Peugeot para viajar sempre em classe económica, e usa há 20 anos o mesmo relógio Tissot. 

Com Sónia Peres Pinto