Autoeuropa recusa falar de horários de janeiro

Administração mostra pouca abertura para mudar os horários a aplicar a partir de janeiro. As negociações recomeçam segunda-feira.

Apesar de a administração da Autoeuropa e da Comissão de Trabalhadores (CT) retomarem as negociações na próxima segunda-feira em relação aos horários de trabalho, tudo indica que as conversações vão recair só sobre o modelo de trabalho a aplicar no segundo semestre do ano, altura em que vai ser implementada a laboração contínua. 
As duas partes estiveram reunidas, esta sexta-feira, com o ministro de trabalho Vieira da Silva e à saída do encontro o diretor da fábrica, Miguel Sanchez, foi claro: o que «pode mudar é o modelo de trabalho do segundo semestre», admitindo no entanto que a reunião foi «muito produtiva e proveitosa». Também a posição da Comissão de Trabalhadores não deixou dúvidas. Fernando Gonçalves garantiu que o plenário de trabalhadores na fábrica de Palmela mantém-se no dia 20 de janeiro.

Depois de dois pré-acordos chumbados sobre mudanças de horários, a administração da Autoeuropa decidiu unilateralmente avançar com o horário aos sábados, a implementar a partir de janeiro do próximo ano, sem esperar pela luz verde por parte dos trabalhadores da fábrica de Palmela. No entanto, deixou em aberto as mudanças de horário a partir de agosto – altura em que entra em funcionamento a laboração contínua – assim como uma porta aberta para o diálogo com a comissão de trabalhadores (CT).

Uma decisão que foi imediatamente rejeitada pela CT ao alegar que «este modelo de horário e as suas condições são mais desfavoráveis e contrariam a vontade expressa pela maioria dos trabalhadores».

O plenário de dia 20 tem como agenda a discussão da situação da empresa, assim como a apresentação do caderno reivindicativo. Um encontro que também vai contar com os sindicatos, nomeadamente o SITE-Sul, que já deixou um apelo aos trabalhadores: «Que fortaleçam a unidade expressa na greve de 30 de agosto, para continuar a exigir da administração que a negociação continue e se encontre uma solução que ultrapasse o conflito». 

Para o sindicato, a confirmar-se a aplicação daquele regime de forma unilateral, a administração estaria «a assumir que coloca em causa o diálogo social que tanto apregoa; estaria igualmente a não considerar o ambiente de descontentamento existente na fábrica e a optar pela arrogância e a imposição, em substituição da negociação».
Em causa a aplicação do novo horário a partir de janeiro com a implementação de 17 turnos semanais , onde estão incluídos os sábados. A administração compromete-se em pagar um prémio adicional de 100% sobre cada sábado trabalhado (pagamento mensal) e um prémio adicional de 25% sobre os sábados trabalhados no trimestre, de acordo com o cumprimento do volume planeado para o trimestre (pagamento trimestral). 

Produção comprometida

Além do braço-de-ferro entre administração e trabalhadores, a fábrica confrontou-se ainda com a falta de peças para a produção do T-Roc. A explicação varia. De acordo com a empresa, como a Volkswagen está a lançar muitos novos modelos, provocou uma quebra no stock dos fornecedores. Um argumento bem distinto dos trabalhadores. «Os fornecedores escolhidos foram os mais baratos. Nós, trabalhadores, alertámos que seria problemático. A administração assim não o entendeu. Aqui está o resultado: o que é barato sai caro», disse. 

Aliada a esta quebra de stock, a empresa continua a enfrentar a forte concorrência de outras fábricas dispostas a produzir parte do T-Roc. Tal como o SOL avançou, há uma série de fábricas do grupo Volkswagen com baixo volume de produção preparadas para receber parte da produção do novo modelo. A fábrica de Osnabrück é uma dessas unidades industriais. Outro exemplo apontado tem sido a fábrica Volkswagen de Navarra, em Pamplona, que conta com dimensões mais próximas da fábrica de Palmela. 

Este impasse vivido na fábrica de Palmela já entrou na esfera política, com a líder do CDS a desafiar o governo a «chamar à razão» os partidos que apoiam o executivo. Assunção Cristas acusa o PCP e o BE de estarem «por detrás da teia de dificuldade» nas negociações entre trabalhadores e administração da empresa.

Uma acusação que levou o líder da CGTP a afirmar que a direita em Portugal «não tem moral, nem razão» para pronunciar-se sobre as negociações que decorrem na Autoeuropa, porque estão associados «à acentuação» da pobreza laboral.

Também Vieira da Silva já veio garantir que o «Governo assumirá as suas responsabilidades, que podem ser concretizadas com um envolvimento mais forte no que toca ao reforço da criação de equipamentos sociais de apoio à família que responda a um novo quadro horário, por exemplo».