Laurent Wauquiez. O anti-Macron veio para vencer?

Depois das derrotas eleitorais nas eleições presidenciais e parlamentares francesas, os militantes d’Os Republicanos elegeram com maioria absoluta um novo líder, Laurent Wauquiez. O objetivo? Virar o partido à direita.

Laurent Wauquiez. O anti-Macron veio para vencer?

As eleições que varreram o continente europeu este ano foram verdadeiros terramotos políticos, tanto pela ascensão da extrema-direita como por terem obrigado o centro a redefinir-se. A França é um dos principais exemplos – senão o paradigma – destas tendências no jogo do xadrez político europeu. Se, por um lado, o antigo ministro socialista de François Hollande, Emmanuel Macron, criou uma nova plataforma política, o República em Marcha, partido com o qual venceu as eleições presidenciais e parlamentares francesas com maiorias arrebatadoras, por outro lado, a extrema-direita subiu nas eleições. Já no centro-direita, nomeadamente Os Republicanos, entrou-se num estado de letargia e de reorganização interna. Assolado por escândalos de empregos fantasma oferecidos a familiares e pelas sucessivas derrotas, a ala mais radical à direita entendeu que o partido precisava de mudar para disputar as eleições presidenciais de 2022.

É neste contexto que a eleição de Laurent Wauquiez para presidente d’Os Republicanos, no passado domingo, com 74,6% dos votos, se assume como marco na reorganização do partido e do quadrante político em si. No seu discurso de vitória, Wauquiez prometeu «reinventar e reconstruir» o partido, ao mesmo tempo que recusava caminhar para o centrão. Ao invés, pretende, com uma linha programática que relembra a de Nicolas Sarkozy, disputar espaço político tanto à de extrema-direita, representada pela Frente Nacional, como à plataforma de Emmanuel Macron. Contra a extrema-direita pretende reorientar o partido nas questões da imigração, direitos sociais, Islão e terrorismo. Por sua vez, e contra Macron, defende um corte imediato e brutal nos gastos com a administração pública, além de idealizar uma sociedade ultraconservadora. Ataca ainda o projeto do Presidente francês de «refundação da União Europeia» com a contraproposta de transformar a UE numa «União de Nações», onde os países com menos peso político devem reconhecer a importância de França e Alemanha nos destinos europeus. Uma posição que contrasta com a defesa acérrima em torno da Constituição Europeia de 2005, e que foi chumbada em referendo pelo eleitorado francês, ou com a proposta de abolir a Comissão Europeia no seguimento referendo do Brexit. Alguns dos seus críticos – conservadores moderados, atente-se – receiam que Wauquiez transforme o outrora movimento gaullista numa versão francesa do Tea Party norte-americano. O líder republicano afirmou inclusive que o presidente norte-americano, Donald Trump, é uma fonte de «inspiração» para si e para os seus intentos partidários. 

Não é por acaso que Wauquiez é considerado o némesis por excelência de Macron. Curiosamente, ambos pertencem à mesma geração de políticos e frequentaram a mesma instituição de ensino elitista, a École Nationale d’Administration, sendo que Wauquiez foi ainda admitido na ainda mais elitista École Normale Supérieure, ao contrário de Macron. O agora líder republicano começou o seu percurso político como o mais jovem deputado à Assembleia Nacional em 2004, tendo, depois, assumido vários cargos governamentais. Entre eles encontram-se o de porta-voz do Governo republicano de Nicolas Sarkozy (2007/8), o de Secretário de Estado para o Emprego (entre 2008 e 2010), o de ministro para os Assuntos Europeus (2010-2011) e, por fim, o de ministro do Ensino Superior (2011-12). Entre 2008 e 2014 foi também presidente da Câmara de Le Puy-en-Velay, onde ficou conhecido por se ter recusado a autorizar um casamento legal entre casais do mesmo sexo. E ainda hoje mantém o cargo de presidente do Conselho de Auvergne-Rhône-Alpes, onde chegou em 2016.
Ao longo do seu percurso, Wauquiez ficou conhecido por ter conquistado inúmeros críticos e inimigos. Por exemplo, o atual ministro das Finanças francês, Bruno Le Maire, já o acusou de «reinar através do terror» e políticos do seu quadrante chamaram-no de «narcisista clínico» e «oportunista». Wauquiez é «alguém que deve ser levado a sério», disse Macron numa entrevista ao jornal francês Le Monde. No horizonte, Wauquiez tem as eleições locais, em 2021, e as presidenciais, em 2022. Será que a viragem à direita irá trazer benefícios eleitorais ao partido? No final do dia, essa parece ser a questão.