Breitscheidplatz

O nome não é fácil de memorizar. É o da praça de Berlim onde, faz agora um ano, um veículo irrompeu por um pacato mercado de Natal, provocando 12 mortos e 49 feridos. 

Seguiram-se, com maior destaque, Istambul e Barcelona, numa lista onde já estavam Moscovo, Madrid, Londres, Paris, Bruxelas e Nice. Convém lembrar a sucessão de factos e não esquecer que podem repetir-se em qualquer ponto onde possam ser notícia. 

Em todos os casos, sucederam-se as acusações de que foram descurados avisos de ‘atentado em preparação’ e os passa-culpas da ordem: poderes locais a exigirem medidas urgentes de segurança e revelações de que foram ignoradas recomendações dos governos… ‘para não criar obstáculos aos visitantes’. 

É certo que não é possível prever, ou imaginar, todo o tipo de ameaças, mas a multiplicação dos atentados demonstra que ficou por fazer uma avaliação séria do ataque às Torres Gémeas e da escalada de violência que se lhe seguiu. Nestes 16 anos, sucederam-se as tragédias sem que tivesse sido prestada atenção a indícios relevantes, que só depois foram conhecidos. Tudo idêntico ao que se passa com as medidas para a prevenção dos incêndios, como por cá se viu neste Verão.

Portugal subiu à primeira divisão dos destinos mais procurados, com eventos religiosos, culturais, desportivos e outros que atraem cada vez mais visitantes, sendo certo que ‘o que traz o bem… arrasta o mal’. Acredita-se que as autoridades estarão a ponderar os riscos, mas a dúvida que fica é se estão a ser envolvidas as entidades e as pessoas certas. É que, a avaliar pelas conclusões dos inquéritos aos fogos deste ano, as tragédias foram agravadas por evidentes défices de organização, de coordenação e de cooperação na ação, que são a chave da eficácia no combate a qualquer desgraça, seja ela um acidente ou um caso de saúde pública.  

É bom que confiemos que os serviços de segurança estão a fazer o seu trabalho, mas é inquietante que não se dê por ele. 

Não se ignora que este é um campo onde a discrição e o segredo são condições de sucesso, mas a segurança de todos é um bem que não pode ficar circunscrito ao julgamento e decisões de um comité de especialistas, que pensam por si o que deve ser analisado e realizado por muitos. 

É difícil aceitar que um conjunto restrito de pessoas consiga prever tudo o que pode acontecer em grandes eventos com elevada concentração de pessoas. 

Estando os potenciais alvos distribuídos pelo país, não seria normal que os autarcas e as forças policiais da região fossem ouvidos, tendo em vista a identificação dos ‘pontos vermelhos’, a definição de planos de fuga e de circulação dos meios de socorro em caso de catástrofe natural, crime terrorista ou acidente de grandes proporções? 

Está o país preparado para prevenir, ou acudir, a uma tragédia igual à de Breitscheidplatz ou das Ramblas? Ou atira-se tudo para um focus group e, se a desgraça chegar, aplica-se a receita do costume: acusam-se os criminosos, choram-se os mortos, confortam-se as famílias… e exige-se a cabeça do ministro.