Política versus humor. Como pode ser difícil lidar com a realidade

Na semana passada, a Lusa divulgou uma notícia com o título José Eduardo dos Santos quer MPLA a liderar combate à corrupção em Angola, da qual me permito transcrever o seguinte excerto: «O líder do MPLA, partido no poder em Angola, defendeu hoje que aquela força política deve liderar o combate à corrupção e ao…

Na semana passada, a Lusa divulgou uma notícia com o título José Eduardo dos Santos quer MPLA a liderar combate à corrupção em Angola, da qual me permito transcrever o seguinte excerto:

«O líder do MPLA, partido no poder em Angola, defendeu hoje que aquela força política deve liderar o combate à corrupção e ao nepotismo no país, males suscetíveis de manchar a imagem do Estado e do Governo angolano.

(…) Estão na base desse mal, acrescentou José Eduardo dos Santos, os ‘excessos’ praticados por agentes públicos e privados, ‘que detinham de forma ilícita vantagens patrimoniais para si ou terceiros, em prejuízo do bem comum, transgredindo a lei e a norma de comportamento social’ (…)».

Faço notar que não se trata de um texto escrito por Ricardo Araújo Pereira ou outro humorista. Não, não é uma gozação – é mesmo um texto de carácter noticioso, divulgado pela agência Lusa, e escrito presumivelmente com a maior seriedade.

Também na semana passada surgiram duas ou três notícias, oriundas dos EUA, dando conta de um alerta público feito por um grupo de psiquiatras e psicólogos americanos – os quais, à revelia do que parece ser um tabu, assumiram a responsabilidade de caracterizar o senhor Donald Trump como um caso de distúrbio psíquico que, devido ao cargo que hoje ocupa, pode pôr em grave perigo o mundo inteiro, e não apenas a própria família ou os colegas, como em geral acontece quando os distúrbios psíquicos afectam um cidadão comum.

Ora nós, em Portugal, já tivemos a experiência dos males imensos que podem ocorrer quando um país é governado por alguém com nítidos distúrbios psíquicos, e dos mantos de silêncio com que tais situações são cobertas, para que todas as interpretações passem para o foro da justiça, ou da política.

Somos, pois, ou deveríamos ser, mais capazes de perceber as dificuldades que os americanos estão hoje a experimentar, no sentido de se libertarem de um líder que foi escolhido democraticamente — e que, entretanto, mostrou ser incapaz de solucionar os problemas do país e do mundo, mas muito capaz de provocar disrupções e conflitos de toda a espécie, sem que pareça haver formas práticas de o controlar.

António Silva Carvalho