Portugueses. Do renascido Guedes ao desaparecido Renato

Após passagem discreta pelo PSG, Gonçalo Guedes reapareceu em grande no Valência. Já Renato Sanches passou de suplente crónico no Bayern a flop da Premier League

Com o ano civil a finalizar e a temporada futebolística a passar para a segunda volta, é tempo de fazer balanços. Hoje, o i debruça-se sobre os portugueses nas cinco principais ligas europeias. São muitos – 44, mais propriamente –, e dividem-se entre boas surpresas, confirmações, meio-termo e desilusões.

No topo dos bons desempenhos, é inevitável falar de Gonçalo Guedes. Transferido há 11 meses do Benfica para o PSG por valores de respeito (30 milhões de euros mais variáveis), o jovem avançado passou quase incógnito por Paris na segunda metade da última temporada. Vendo que 2017/18 não ia ser muito diferente, até pelas contratações de outro mundo dos parisienses (os nomes Neymar e Mbappé dizem-lhe alguma coisa, caro leitor?), Guedes aceitou ser emprestado ao Valência. E em Espanha renasceu: soma 13 jogos e três golos, sendo uma das figuras do sensacional Valência – só uma lesão travou, por breves semanas, o percurso ascensional. Para se ter uma ideia do impacto que tem causado no país vizinho, já foi avançado o interesse do… Real Madrid nos seus serviços. Sintomático.

No “pote” das surpresas, cabem ainda mais dois jogadores que entretanto entraram mesmo no lote de internacionais A por Portugal: Kévin Rodrigues e Rony Lopes. O lateral-esquerdo de 23 anos ganhou o lugar de lateral-esquerdo na Real Sociedad, enquanto o médio ofensivo nascido no Brasil convenceu finalmente Leonardo Jardim, somando já 25 jogos e três golos no Mónaco.

Uma referência também para Rebocho e Xeka. Aos 22 anos, o lateral-esquerdo trocou o Moreirense pelo Guingamp e, depois de um começo em que alternou o banco com a titularidade, parece agora ter ganho definitivamente o lugar e até já foi distinguido na equipa da semana do prestigiado jornal francês “L’Équipe”; por sua vez, o médio de 23 anos ex-Braga tem vindo a mostrar no Dijon que a dispensa do Lille foi um erro crasso de Marcelo Bielsa.

Vários outros atletas nacionais tiveram boas prestações nestes primeiros meses de temporada. Nestes casos, porém, não se pode falar de surpresas; antes da confirmação do valor que lhes é reconhecido já há bastante tempo. Neste item entram os nomes de Cédric (Southampton), João Moutinho (Mónaco), Anthony Lopes (Lyon), Rolando (Marselha), Pedro Mendes (Montpellier), Antunes (Getafe), Luisinho (Corunha), Miguel Veloso (Génova), Mário Rui, que parece ter ganho um lugar no sensacional Nápoles, e até Cristiano Ronaldo – o mau começo já parece estar definitivamente ultrapassado.

Idade, lesões e abundância de opções Falámos até aqui dos jogadores lusos com prestações positivas até esta fase da época e ainda iremos abordar as grandes desilusões. Mas há um patamar intermédio: aquele em que se inserem os jogadores que, não tendo estado mal, ainda podem melhorar – ou ainda aqueles que não defraudaram quaisquer expetativas porque as mesmas eram, já de si, muito baixas à partida. É o caso de Eduardo, que foi contratado pelo Chelsea no início da temporada passada para ser terceira (ou quarta) opção para a baliza, e que continua sem se estrear oficialmente pelos blues; mas também de jovens como Joel Pereira (21 anos), terceiro guarda-redes do Manchester United de José Mourinho: Domingos Quina (18 anos), promessa do West Ham; Bruno Jordão (19 anos) e Pedro Neto (17 anos), que a Lázio pescou de forma surpreendente em Braga no início da temporada; João Queirós (19 anos), também ex-Braga e que procura a afirmação no Colónia. Aqui entram também os lesionados de longa duração Carlos Mané (Estugarda), Daniel Carriço (Sevilha) ou ainda Raphael Guerreiro (Dortmund) e Nani (Lázio), que têm sofrido amiúde com problemas físicos.

Em termos estritamente desportivos, Bernardo Silva será o nome que melhor personifica este patamar. O talento é inquestionável, a margem de progressão incrível, mas o tempo de utilização no Manchester City não tem correspondência com o futebol que o menino formado no Benfica demonstra a cada oportunidade que tem. No entanto, é previso lembrar que a máquina de Pep Guardiola é provavelmente a melhor oleada do mundo futebolístico na atualidade e nomes como David Silva, De Bruyne, Leroy Sané ou Sterling não são propriamente fáceis de destronar. Restará ao Messizinho do Seixal continuar a tentar furar a hierarquia.

Bruma (RB Leipzig), Nélson Semedo e André Gomes (Barcelona), Rúben Vezo (Valência), Bruno Gaspar e Gil Dias (Fiorentina) ou Cafú (Metz) também se inserem nesta categoria: não são titulares indiscutíveis, mas têm estado bem quando são chamados à ação. Já Edgar Iê e Paulo Oliveira têm apresentado um bom rendimento, mas são algo reféns da época sofrível das respetivas equipas (Lille e Eibar).

Esperava-se mais Chegamos ao campo das desilusões. E aqui, o nome de Renato Sanches é absolutamente incontornável. A época discreta no ano de estreia no Bayern Munique até é compreensível: um menino de 19 anos no meio de estrelas como Xabi Alonso, Thiago Alcântara, Vidal, Kimmich ou mesmo Lahm nunca poderia esperar a titularidade imediata. Foi com isso em mente que surgiu a possibilidade do empréstimo ao Swansea, onde Renato tinha a obrigação de se impor desde logo como uma das figuras. Anda, porém, muito longe disso: soma apenas dez jogos e têm sido muitas as críticas aos seus desempenhos – tanto, que vários órgãos desportivos britânicos o elegem como o flop da temporada em Inglaterra até agora. Já se chegou inclusivamente a falar de um regresso antecipado a Munique – rumor entretanto desmentido pelo técnico dos swans.

Também João Mário tarda a conseguir a afirmação no Inter de Milão. Este ano foi titular apenas em quatro ocasiões – muito pouco. Ainda no Inter, também João Cancelo está aquém do esperado: utilizado em seis jogos, só num (para a Taça) fez parte do onze inicial.

O caso de André Silva é o mais paradigmático. Rei dos golos na Liga Europa, raramente é opção no campeonato italiano, onde ainda continua em branco – e o AC Milan já vai no segundo treinador.

Rúben Semedo é outra das grandes desilusões. Apontado por muitos como futuro central da Seleção nacional, somou algumas exibições sofríveis no Villarreal. Acabou por perder a titularidade e sofreu entretanto duas lesões graves, enfrentando agora uma paragem estimada em três meses.

José Fonte (West Ham), Afonso Figueiredo (Rennes), Bebé (Eibar) ou Bruno Gama (Corunha) são outros exemplos de jogadores portugueses de quem se esperava melhor rendimento até este momento.