CTT. Queda de 50% do negócio tradicional dita profunda reestruturação

António Costa garante que governo não tem intenção de renacionalizar Correios, mas diz que Anacom irá avaliar concessão que termina em 2020

A queda do negócio tradicional dos correios, aliado ao investimento feito pela empresa para lançar o Banco CTT, forçaram a empresa a lançar um profundo programa de reestruturação até 2020, altura em que termina o contrato de concessão, que prevê, entre várias medidas, a saída de mil trabalhadores e fecho de balcões com pouca procura. A empresa espera poupar até 45 milhões de euros, mas os alarmes voltaram a soar em torno da capacidade de cumprimento das obrigações do serviço postal e só os investidores parecem suspirar de alívio com as ações a disparar em bolsa após semanas de quedas contínuas.

A empresa fala ainda em reduzir o dividendo, cortar até 25% os salários dos membros da administração, reduzir os gastos com fornecedores e serviços externos e concessionar a gestão de postos de correios a terceiros.

Num comunicado do conselho de administração dos Correios a que o i teve acesso, a empresa aponta para uma quebra de 50% do volume de correio endereçado desde 2001. Nessa altura, o volume atingia 1,4 mil milhões de correio endereçado para atingir os 0,7 mil milhões nos últimos 12 meses até setembro deste ano. Ao mesmo tempo, os CTT têm assistido a uma aceleração da queda do correio endereçado nos últimos trimestres com uma queda de 6% nos primeiros nove meses do ano (face a quedas médias de cerca de 4% entre 2014 e 2016).

“Com a diminuição da atividade do correio torna-se fundamental o desenvolvimento de alavancas de crescimento, nomeadamente a atividade de expresso e encomendas suportada no comércio eletrónico e o reforço da atividade financeira através do Banco CTT, lançado na rede de lojas em março de 2016”, diz a empresa na mesma carta.

Ações recuperam Mas os cortes anunciados esta semana acalmaram os investidores e as ações chegaram ontem a valorizar mais de 10% e fecharam a sessão de ontem a ganhar mais de 5% para os 3,67 euros. Uma recuperação que elimina quase metade das perdas sofridas desde que no final de outubro, após a empresa ter anunciado uma queda dos lucros de 57,6% para 19,5 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano.

Também os analistas do BPI melhoraram a recomendação para as ações de “underperform” para “comprar”, devido à evolução negativa da cotação (os títulos descem 31% desde a última revisão, no final de Outubro). O preço-alvo mantém-se em 4,70 euros, apesar de o BPI reconhecer os riscos relacionados com as despesas operacionais da implementação do plano. O ‘target’ traduz um potencial de valorização de quase 29%, tendo em conta a cotação atual (3,645 euros) e consideram os “atrativos” para os investidores internacionais.

Governo afasta controlo A questão da renacionalização voltou a estar em cima da mesa por parte dos partidos de esquerda. Tanto o PCP como o BCE chegaram a entregar no parlamento propostas de recuperação do controlo dos Correios pelo Estado, mas foram rejeitadas, apenas a resolução do PS para criar um grupo de trabalho para avaliar o atual contrato de concessão foi aprovada.

Ainda ontem, no debate quinzenal, António Costa garantiu estar preocupado com o presente e o futuro da empresa, mas garantiu que o governo não tem intenção de renacionalizar os CTT, remetendo para a Anacom qualquer eventual alteração ao contrato de concessão, dizendo também que duvida que a multa aplicada pelo órgão regulador justifique o fim da concessão.

O primeiro-ministro afirmou que ainda não recebeu qualquer proposta ou pedido de reestruturação dos CTT. “Uma não tem qualquer intervenção do governo, que é a figura do despedimento coletiva. Outra é, no quadro da reestruturação, o aumento da quota das rescisões por mútuo acordo. Não nos chegou nenhum pedido até agora de aprovação de aumento da quota legalmente prevista para qualquer rescisão por mútuo acordo”, afirmou.

Esta foi a resposta do primeiro-ministro à coordenadora do BE, Catarina Martins, ao afirmar que se “o Estado fica à espera” para salvar os CTT “não vai ter nada para resgatar”. “Os acionistas privados estão a pilhar a empresa, estão a destruir os CTT. Se o Estado fica à espera, não vai ter nada para resgatar”, avisou, lembrando que “a entrega diária acabou e, nas zonas rurais, o correio é entregue apenas uma ou duas vezes por semana. Há pensionistas que desesperam com o atraso nos vales das pensões. A população mais frágil está mais abandonada”.

Já o líder parlamentar socialista acusou o anterior governo de ter privatizado os CTT sem garantias de serviço público e de defesa dos trabalhadores, numa intervenção em que criticou a oposição por adotar uma linha sem nexo.