Um em cada dez portugueses ainda conduz depois de beber

Em dia de apresentação de campanha de prevenção para este fim de ano, associação divulgou dados preocupantes: um terço dos condutores que perderam a vida na estrada nos últimos anos tinham bebido de mais

Experimentar conduzir com uma taxa de alcoolemia no sangue acima da legalmente permitida – 0,5 g/l – é uma das iniciativas da campanha de promoção de condução segura “Aprecie a Condução sem Álcool”, que arranca já na próxima sexta-feira. Nessa simulação, porém, o álcool está bem longe – a ideia é colocar uns óculos que simulam a visão de uma pessoa com cerca de 0,8g/l de álcool no sangue, para ter consciência dos efeitos ao conduzir.

A pensar nos muitos portugueses que vão visitar a família na quadra natalícia, a iniciativa vai decorrer até 2 de janeiro nas Áreas de Serviço da Galp de Aveiras e Pombal, na A1, e de Alcácer, na A2, em ambos os sentidos. Nos mesmos locais, a Sagres vai promover uma campanha de degustação de cerveja sem álcool, para provar que é igualmente saborosa.

Num ano em que morreram 483 pessoas em acidentes rodoviários até dia 15 de dezembro – mais 13% do que em 2015 – a campanha, apresentada em conferência de imprensa esta quarta-feira em Lisboa, junta a Prevenção Rodoviária Portuguesa, a Brisa, a Galp e a Sagres para incentivar a “adoção de comportamentos prudentes ao volante, sensibilizando os condutores para uma condução segura sem álcool”, como se lê na nota à imprensa.

O perigo do álcool ao voltante A apresentação da campanha foi ocasião para a divulgação de dados sobre o impacto do consumo de álcool na condução em Portugal.

Os números, considerados “alarmantes” por José Manuel Trigoso, o presidente da PRP, revelam que, entre 2010 e 2015, 33,2% dos condutores que morreram ao volante tinham uma taxa de álcool superior a 0,5g/l e 24% ultrapassava os 1,2 g/l – taxa já considerada crime, punível com pena de prisão.

Já dados recolhidos pela PSP e a GNR em 2013 em 5392 observações sugerem que 10,4% dos condutores em Portugal conduz sob o efeito de álcool, 1,8% dos quais acima do limite legalmente permitido. E os homens bebem mais do que as mulheres.

Ao comparar faixas etárias, conclui-se que, pelo menos nesta matéria, a responsabilidade parece não ser proporcional à idade – 11,2% de 628 jovens entre os 18 e os 24 anos acusou álcool no sangue, contra 10,3% de 375 pessoas com mais de 65 anos.

Os dados recolhidos mostram também que é ao fim de semana que os portugueses conduzem mais sob o efeito de álcool, em particular de madrugada. Entre as 3h e as 5h, 24,3% das pessoas observadas tinham álcool no sangue, ainda que a maioria não passasse de 0,49 g/l.

Apesar de mais 90% dos portugueses concordar, num estudo de 2015 da ESRA – European Survey of Road Users’ Attitudes também referido, que é arriscado conduzir sob o efeito de álcool, os números mostram que essa percepção não tem peso na hora de decidir consumir ou não antes de conduzir. Esse é um dos motivos pelos quais o presidente da PRP reiterou ser necessário a lei prever a instalação de um dispositivo que bloqueia o carro quando o condutor reincidente acuse taxa de alcoolemia acima do permitido.

Trigoso referiu ainda que os motociclos constituem uma particular preocupação, uma vez que o número de vítimas mortais este ano foi duas vezes maior do que o registado em 2016. Para Trigoso e Jorge Jacob, presidente da ANSR, esta tendência pode ser explicada pelo aumento deste tipo de veículos em circulação – algo que poderá ser explicado por ter chovido menos este ano, acredita o presidente da PRP. José Manuel Trigoso apontou ainda responsabilidades à justiça, defendendo que os juízes aplicam penas demasiado baixas em situações de crime.