Real Madrid-Barcelona. Com a força dos ventos do Destino!

Na véspera do Real Madrid-Barcelona recordam-se dois confrontos consecutivos entre os dois rivais na antiga Taça dos Campeões Europeus. Foram nas épocas de 1959-60 e 1960-61. Resultados diferentes e as guerras do costume.

Eis que está aí à porta, já amanhã, pelo meio-dia, mais um Real Madrid-Barcelona, talvez nos dias de hoje o mais universal de todos os clássicos. Aliás, a escolha do horário não surge ao acaso, bem pelo contrário, destina-se a poder englobar telespetadores de todos os cantos deste planeta redondo e ligeiramente achatado nos pólos.

Sabe-se que vai o Barcelona ao Estádio Santiago Bernabéu sentado no cadeirão de 11 pontos de avanço sobre o seu opositor, coisa que pode redundar numa espécie de calamidade branca em caso de derrota merengue. Mas não é para deitar contas à vida nem para estabelecer previsões que me atirei às teclas do QWERT, estou aqui para recordar duas épocas extraordinárias – 1959/60 e 1960/61 – nas quais os grandes rivais do futebol espanhol se encontraram para embates sem quartel na taça que se chamava dos Campeões Europeus.

Ora bem, 1959-60 seria a época da quinta Taça dos Campeões consecutiva para o Real. Não imaginavam, talvez, e sobretudo após terem esmagado o Eintracht Franckfurt na final de Hampden Park, em Glasgow, por 7-3, que a sua saga vitoriosa estava à beira do fim. Mas cada coisa a seu tempo.

Nas meias-finais, o Real Madrid defrontou o Barcelona. Campeão europeu contra campeão espanhol. Uma demonstração do poder do futebol ibérico, sem dúvida.

No dia 21 de Abril de 1960, o Real bateu em casa os catalães por 3-1, na primeira mão – golos de Di Stéfano (2) e Puskás contra o de Eulogio Martinez. Helenio Herrera, o desbocado treinador do Barcelona, pôs a lenha na fogueira: “Não tenho dúvidas de que em Barcelona podemos dar a volta a este resultado. Somos melhores e vamos prová-lo. Seremos os próximos campeões da Europa!”.

Se Herrera provou alguma coisa foi o sabor amargo do fel da derrota.

O Real Madrid voltou a ganhar e precisamente pelo mesmo resultado: 3-1.

Os golos foram de Puskás (2) e Gento, e o Barcelona esteve a perder por 0-3 até ao último minuto quando Kocsis lá reduziu o peso negativo do marcador.

Herrera seria despedido pouco depois. Já não estava na Catalunha no dia em que o Real Madrid somou a sua quinta taça de enfiada.

Teria de esperar mais uns anos para ser finalmente campeão da Europa ao comando do Inter. Batendo o Real numa das finais.

Um ano mais tarde. O futebol tem destas coisas meio cabalísticas às quais se dá, por vezes, o nome de Destino.

Pois quis o Destino que na edição seguinte da Taça dos Campeões Europeus, Real Madrid e Barcelona se voltassem a encontrar, desta vez, logo nos oitavos-de-final.

Os acontecimentos ficaram para a história dos dois clubes. Marcados a ferro em brasa por causa de dois encontros fervilhantes e recheados de polémica.

Mais uma vez coube ao Real Madrid abrir em casa as hostilidades.

A vantagem branca chegou a ser de dois golos, marcados por Mateos e Gento. Luisito Suárez, que não tardaria a seguir Herrera para o Inter de Milão foi responsável pelo empate, com um dos tentos, de penálti, a ser discutido pelos brancos até à beira da raiva.

Em Barcelona, o caldo entornou-se por completo.

Vitória do Barça por 2-1: golos de Vergés e Evaristo contra o de Canario.

O golo de Evaristo foi uma obra de arte. A bola vinha lá do alto, da direita, e ele olhando-a, adivinhando o local exato onde iria cair. Depois o voo. Jogador e bola na intersecção perfeita das elipses. A cabeça de Evaristo empurrou-a para o fundo da baliza de Vicente.

O estádio explodiu! Uma alegria incontida. Uma onda gigante pintada a azul-grená.

Pela primeira vez, o Real Madrid era eliminado da sua Taça dos Campeões Europeus e logo aos pés do rival mais odiado. Não haveria sexto troféu consecutivo. A ordem do futebol no Continente estava à beira de mudar.

O Barcelona não seria o vencedor dessa taça: perdeu-a na final de Berna para o Benfica.

Ficaria anos a fio sem lhe tocar, vendo-a fugir teimosamente até ao dia daquele golo de Koeman, em Wembley, frente à Sampdória.

Mas isso é de outro filme.

O confronto de Camp Nou seria pasto de discussões infindáveis.

Leafe, um árbitro inglês, tornou-se personagem de todos os jornais europeus.

A sua prestação ainda hoje paira na memória dos madridistas.

Motivo? Anulou três golos ao Real Madrid, dois deles de forma incompreensível, tão franca foi a legalidade dos lances. Gento não calou a revolta no final do jogo: “Já estavam cansados das nossas vitórias. Queriam pôr um ponto final nas nossas jornadas triunfantes e conseguiram-no. Era preciso outro campeão europeu para que a Taça dos Campeões não se tornasse aborrecida”.

Talvez tivesse razão.

Os dois confrontos entre Real Madrid e Barcelona de 1959-60 e 1960-61 foram extraordinários. El Classico entrava pela Europa dentro, tal como agora por todo o mundo. Haveria ainda outros, em 2001-02 e 2010-12. Afinal falamos de dois dos mais poderosos clubes de sempre. E de um daqueles combates que ninguém quer perder.

Amanhã repete-se, em Madrid.

E até ao fim dos tempos…