Internamentos sociais custam 68 milhões

Cada dia a mais nos hospitais agrava a perda de autonomia, alerta presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares. APAH vai repetir barómetro em 2018.

Os internamentos nos hospitais portugueses para lá do tempo necessário por motivos clínicos custam todos os anos pelo menos 68 milhões de euros. A estimativa foi feita este ano pela primeira vez na primeira edição do Barómetro de Internamentos Sociais promovido pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), que permitiu quantificar um problema há muito sentido nas unidades. A falta de respostas sociais acaba por contribuir para a ocupação indevida de camas dos hospitais. Embora o primeiro barómetro tenha estimado que 5% das camas do SNS (655) estão ocupadas com casos sociais, haverá realidades muito distintas. Helena Almeida, ex-diretora clínica do Amadora Sintra, lembra que, no caso deste hospital, 10%das camas chegaram a estar ocupadas por motivos sociais e a unidade chegou mesmo a tomar medidas para reduzir a pressão, como contratualizar por sua conta o encaminhamento de doentes para lares. 

A falta ou demora da resposta em residências e cuidados continuados continuam a ser algumas das dificuldades e a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares pretende continuar a monitorizar de perto esta realidade. A partir de 2018, tencionam repetir três vezes por ano o barómetro, para ter um retrato em alturas distintas do ano. O próximo levantamento de casos sociais serviço a serviço será feito em fevereiro, adiantou ao SOL Alexandre Lourenço, presidente da APAH. Se o primeiro estudo foi feito a 2 de outubro, uma altura relativamente calma nos hospitais, em fevereiro apanhará o período depois da epidemia de gripe sazonal e o administrador hospitalar admite que a carga destes casos no SNS poderá revelar-se maior.

Se os custos são uma variável a ter em conta, estão longe de ser a única preocupação. Alexandre Lourenço sublinha que diferentes estudos associam cada dia de prolongamento de internamento a uma maior perda de autonomia, o que acaba por tornar-se um círculo vicioso. «Nas enfermarias as pessoas permanecem acamadas e têm mais dificuldade de recuperação». Para evitar estas situações, os hospitais podem também ter uma intervenção mais proativa, por exemplo promovendo sessões de fisioterapia desde o início do tratamento.

A primeira edição do Barómetro de Internamentos Sociais concluiu que metade dos 655 casos sociais sinalizados estavam localizados na região de Lisboa e Vale do Tejo, onde a média de tempo dos internamentos inapropriados encontrava-se na ordem dos 92 dias, três meses no hospital. A nível nacional, a média foi de 67 dias. O inquérito aos hospitais revelou ainda que a maioria dos doentes permanece internado depois de um episódio de origem médica, sendo menos frequentes as situações em que ficam internados para lá do tempo necessário no seguimento de uma operação. Mais de sete em cada dez utentes internados para lá do necessário nos hospitais tinham mais de 65 anos. «Os hospitais não podem resolver esta questão isoladamente, sendo necessário desenvolver a rede de cuidados continuados e políticas ativas de apoio às famílias e cuidados informais para apoio à população acima dos 65 anos. A eliminação dos custos por evitarmos estes internamentos inapropriados poderá financiar estes novos programas», disse na altura da apresentação do estudo Alexandre Lourenço.