Então é Natal

So this is Christmas/And what have you done/… Lembrei-me da canção de John Lennon  ao pensar na política nacional: que fizeram os que decidem sobre o país, no ano que passou? Muito pouco! O Presidente manteve a liturgia dos afetos e o bom povo agradece. A oposição não se opôs, o CDS tenta fazer esquecer…

So this is Christmas/And what have you done/…

Lembrei-me da canção de John Lennon  ao pensar na política nacional: que fizeram os que decidem sobre o país, no ano que passou? Muito pouco!
O Presidente manteve a liturgia dos afetos e o bom povo agradece. A oposição não se opôs, o CDS tenta fazer esquecer Paulo Portas e o PSD lambe as feridas. 
A governação foi difícil, mas tudo teria sido diferente se Passos Coelho tivesse demonstrado o mínimo de sensibilidade que se exige a um líder. 
Nos que apoiam o Governo, temos os sorrisos do Bloco e um PCP que enviou a inteligência para o Parlamento Europeu e deixou os ortodoxos na Assembleia da República. 
Se fosse perguntado ao BE, ao PCP, aos Verdes e ao PAN o que fizeram em 2017, a resposta mais plausível seria: «Provámos o sabor do poder, e gostámos. Habituem-se…».

O PS governa como pode e lidera a AR com os amigos de António Costa, mas está cativo dos parceiros da ‘geringonça’, com uma submissão de cachorro. Se os belisca… temos borrasca, e o partido não quer problemas. 
Para que a desgraça não se note muito, António Costa faz de morto quando lhe convém: fogos florestais, armas de Tancos, legionela, guerra com os professores, trapalhadas da Raríssimas… Para desviar as atenções, tomou a ‘heroica’ decisão de transferir o Infarmed para o Porto e mexeu-se, em Bruxelas, para eleger Mário Centeno. É ‘poucochinho’!

Falta a CGTP.  Como dizia Solnado, «não mata, mas desmoraliza muito». Quando lhe apetece, sai à rua e protesta, mas só pode queixar-se de si própria. Quem governa o mundo laboral há mais de 40 anos e continua com tantas frentes de luta, ou foi incompetente ou investiu as energias em causas que não eram as dos trabalhadores. 
O cancro da precariedade e os salários de miséria compõem um quadro de tragédia que responsabiliza quem conduz as lutas laborais desde 1974. Veja-se o caso do salário mínimo: é baixo, dramaticamente baixo, mas a CGTP perdeu argumentos no dia em que alinhou na guerra do fisco aos ‘ordenados milionários’. 

Se, para quem manda nos impostos, 30.000 euros/ano é rendimento de rico, taxado fortemente em IRS, que argumentos sobram para defender a subida de um salário mínimo que é, afinal, superior a 25% de um ‘ordenado milionário’? 
Os patrões adoram a cantata. Exibem as tabelas e sustentam que a parte superior já é de salários ‘milionários’. Não está lá quase ninguém, mas o argumento prevalece, porque a CGTP não cura dos interesses de chefias aburguesadas. 
Ouve-se algum protesto de cada vez que pessoas com 50 anos de idade e 30 de carreira são substituídos por precários a ganharem o salário mínimo? Nem um pio! Os abusos são generalizados, mas a CGTP silencia os escândalos e é cúmplice deles. 

Mais do que um salário mínimo aviltante, o que empobreceu o país foi a deliberada destruição da classe média, com salários médios que nos envergonham e colocam na cauda da OCDE. 
Como se sai desta? Continua a destruição? Ou deixa-se a recuperação dos rendimentos nas mãos do ‘hábil negociador’ que chefia o Governo?