Libéria. Só um golo separa Weah da presidência

O ex-futebolista disputa hoje a segunda e derradeira volta das eleições presidenciais liberianas, contra Joseph Boakai. Triunfo na primeira ronda abre boas perspetivas para o Bola de Ouro de 1995 alcançar o mais alto cargo político do seu país

O longo processo eleitoral liberiano, iniciado em outubro para definir a escolha do sucessor de Ellen Johnson-Sirleaf, testemunha hoje o seu derradeiro capítulo, com a realização da segunda volta das presidenciais. Frente-a-frente estão os dois mais votados da primeira contenda: Joseph Boakai (28,8% dos votos), atual vice-presidente e candidato do Partido da Unidade (UP, na sigla em inglês); e George Weah (38,4%), senador, antigo futebolista, único jogador de um país africano a vencer a Bola de Ouro e o prémio de melhor futebolista do mundo da FIFA – ambos em 1995 -, e concorrente pelo Congresso para a Mudança Democrática (CDC).

A derradeira ronda deveria ter tido lugar no passado dia 7 de novembro, mas uma ação judicial interposta pelo Partido da Liberdade (LP), na véspera da votação, obrigou ao adiamento da mesma. O seu candidato, Charles Brumskine, terceiro mais votado (9,6%) na primeira volta, alegou existirem indícios de fraude eleitoral e pediu uma investigação, mas as autoridades não encontraram quaisquer irregularidades no ato de 10 de outubro e definiram esta terça-feira para a realização da segunda volta.

Na corrida à sucessão de Sirleaf – a primeira mulher a ser eleita chefe de Estado de um estado africano, em 2006, e uma das três vencedoras conjuntas do Nobel da Paz de 2011 -, o antigo jogador do AC Milan e um dos maiores nomes da História do futebol africano e internacional, é o grande favorito. King George – como é conhecido na Libéria – não só foi o mais votado na primeira volta, como venceu 11 dos 15 condados do país, incluindo a capital, Monróvia – onde se concentra um terço do eleitorado liberiano -, sendo que em sete deles alcançou mesmo vantagens superiores a 20%, sobre Boakai.

Oriundo dos bairros de lata de Bushrod Island, em Monróvia, Weah apresenta-se aos liberianos como o rapaz pobre que venceu na vida pelo seu esforço e dedicação ao trabalho, e como o candidato antissistema, representante dos liberianos autóctones. Esse último estatuto – que na realidade partilha com o próprio Boakai – distingue-o dos descendentes dos escravos libertados dos campos de algodão do sul dos Estados Unidos que procuraram fazer da Libéria uma terra de democracia e liberdade, a partir de 1847, mas que, mesmo em minoria, monopolizaram os cargos políticos e empresariais de topo do país desde esses tempos. 

O antigo Bola de Ouro promete combater a pobreza, investir na educação e recuperar a autoestima de um país que durante 14 anos esteve envolvido numa guerra civil (entre 1989 e 1996; e 1999 e 2003) que fez mais de 250 mil mortos, e que foi recentemente palco de nova matança causada pela propagação descontrolada do vírus Ébola (2014 e 2015). “Quero ser recordado pelas pessoas não como o George Weah que tem 2 ou 3 milhões de dólares na conta bancária ou que conduz os melhores carros, mas como o George Weah que ajudou os jovens a ter uma melhor educação”, apregoa o candidato.

Esta é, na verdade, a terceira vez que Weah participa numa candidatura presidencial. Em 2005 concorreu contra Sirleaf, tendo sido engolido pela sua próprioa inexperiência política e pelas dificuldades que teve para convencer os eleitores que era mais do que um popular ex-jogador de futebol. Depois de uma temporada nos EUA, onde tirou um curso de Gestão e investiu em projetos de cariz solidário, como a George Weah Foundation, o Juniors Professional ou a própria UNICEF, apresentou-se de novo nas urnas, desta vez como candidato a vice-presidente, nas eleições de 2011. Os candidatos do CDC voltaram a perder, para Sirleaf, mas o novo falhanço eleitoral de Weah foi psicologicamente ultrapassado com uma extraordinária vitória em 2014, na corrida ao cargo de senador do condado de Montserrado, contra o filho da presidente da Libéria – logrou 78% dos votos.

Carreira de sucesso

Com mais de 600 jogos realizados e para cima de 280 golos marcados, George Weah chegou à Europa em 1988 – um ano antes de rebentar a guerra civil na Libéria -, pela mão do atual treinador do Arsenal de Inglaterra, Arsène Wenger, na altura à frente do Mónaco.

Para além do clube do principado, Weah jogou ainda no Mighty Barrolle (Libéria), Invencible Eleven (Libéria), Tonnerre Yaoundé (Camarões), Paris Saint-Germain (França), AC Milan (Itália), Chelsea (Inglaterra), Manchester City (Inglaterra), Marselha (França), Al Jazira (Emirados Árabes Unidos) e na seleção nacional liberiana. Conquistou 1 Liga Francesa, 3 Taças de França, 1 Taça da Liga Francesa, 2 Ligas Italianas e 2 Taças de Inglaterra, e foi internacional em 60 ocasiões (22 golos).

Aos 37 anos trocou os relvados pelas mesas de voto e hoje, com 51, está mais próximo do que nunca de marcar o mais apetitoso golo da sua carreira política. A baliza, essa, está escancarada. Só falta empurrar a bola.