FC Porto. O Foguete de Águeda rebentou na cara de Di Stéfano!

Em abril de 1955, comandado por Hernâni, o FC Porto vencia brilhantemente (5-2) o Real Madrid, bi-campeão de Espanha, que dois meses depois, conquistaria a primeira Taça dos Campeões e a Taça Latina

Em abril de 1955, o Real Madrid ainda não era campeão da Europa. Mas não tardaria a sê-lo. No dia 13 do seguinte mês de junho venceria, no Parque dos Príncipes, em Paris, o Stade de Reims por 4-3 e sagrar-se-ia como o primeiro vencedor da Taça dos Campeões Europeus.

A sua carreira até à final seria irresistível: Servette (2-0 fora; 5-0 em casa); Partizan de Belgrado (4-0 em casa; 0-3 fora); Milan (4-2 em casa; 1-2 fora). Tirando o desastre de Belgrado (o Partizan eliminara o representante português na prova, o Sporting, com 3-3 em Lisboa e 2-5 em casa), o Real demonstrara que o título ficava bem entregue.

Em abril de 1955 o Real Madrid também estava à beira de vencer a Taça Latina, competição que colocava frente a frente os campeões de Itália, Espanha, França e Portugal, derrotando novamente o Stade de Reims, desta vez por 2-0.

Em abril de 1955, o Real Madrid estava à beira de se sagrar campeão de Espanha pela segunda vez consecutiva.

Em abril de 1955, o Real Madrid tinha jogadores como Muñoz, Zarraga, Molowny, Gento e, sobretudo, Di Stéfano.

Ou seja, em abril de 1955, o Real Madrid poderia reclamar para si a imagem de equipa mais forte da Europa.

Quando, no dia 17 de abril de 1955, o Real Madrid visitou o Estádio das Antas para a realização de um jogo “amigável”, como se dizia à época, contra o FC Porto, ninguém poderia calcular o que veio a acontecer.

Apesar da qualidade de vários dos seus jogadores, o FC Porto estava a fazer um campeonato modesto e arrastava-se pelo quinto lugar da classificação geral. Ainda assim, 30 mil espetadores deslocaram-se às Antas embora deixando nas bilheteiras a fraca quantia de 400 contos, o que acarretou um claro prejuízo financeiro para o clube, responsável pela deslocação do seu cotado adversário.

Esses 30 mil espetadores acabaram por viver uma tarde histórica.

Logo aos 5 minutos, Porcel tem uma jogada de grande classe, driblando Matteos e entregando a bola a Hernâni que se isola e remata com extrema violência fazendo o 1-0.

Reclamam os espanhóis: acusam Hernâni de ter dominado a bola com o braço. O árbitro confirma o golo. O jogo ganha franca rivalidade.

Nove minutos depois, Muñoz lança o velocíssimo Gento; centro deste para Di Stéfano e o empate está feito. Um empate que não dura mais do que um minuto. O defesa direito do FC Porto, Virgílio, corre pelo seu flanco, e vai e vai e vai até à área contrária para, à entrada dela, desferir um remate forte que engana um atarantado Alonso.

História O público está entusiasmado. Prevê uma vitória histórica como aquela frente ao Arsenal que ecoará por décadas e décadas. Ou como aquela frente a este mesmo Real Madrid, neste mesmo Estádio das Antas, nove anos antes, por 4-1. Os jogadores do Real Madrid mostram-se surpreendidos pela categoria do adversário. E pela sua garra. O seu futebol eminentemente ofensivo esbarra na teia montada pelos jogadores azuis e brancos. Di Stéfano, apesar do golo, está longe de toda a maravilhosa classe que todos lhe reconhecem. Parece perdido em campo. Rial é uma ausência notada no campeão espanhol.

O FC Porto embala para uma exibição de grandeza. O seu futebol é inteligente e lúcido. Há nele uma profundidade e uma velocidade notáveis, uma troca de bola constante, sem perdas de tempo inúteis, uma frequente permuta de posições entre os jogadores que baralha os defesas do poderoso opositor.

É uma falha de Lesmes que conduz Carlos Vieira ao terceiro golo. Um golo previsível desde há muito e que só peca por tardio. Caminhamos para a meia-hora do segundo tempo. Há quem comente, nas bancadas das Antas, que estamos perante um assomo de… baile.

Romeu acabara de entrar para o lugar do fantástico Hernâni, O Foguete de Águeda, como por vezes lhe chamam. Recebe um passe de José Maria e faz um golo de bandeira com um remate indefensável.

4-1 é resultado pesado, muito pesado para uma equipa que se prepara para se tornar campeã dos campeões da Europa. Uma réstia de orgulho, desse orgulho próprio de um grande de Espanha, leva Perez Payá ao 4-2. Mas o FC Porto ainda não encerrou o caudal dos golos. Monteiro da Costa esgueira-se por entre a defesa contrária, isola-se face a Juanito, e pica-lhe a bola por cima do corpo. A goleada foi construída e está edificada. Cabisbaixos, os espanhóis abandonam o terreno ainda surpreendidos com o vendaval que os avassalou.

Ficha do jogo:

Estádio das Antas

Árbitro: José Correia da Costa

Fiscais de linha: Domingos Miranda e Mateus Soares

FC PORTO – Barrigana; Vírgilo e Carvalho; Pedroto, Valle e Porcel; Carlos Vieira, Monteiro da Costa, Teixeira, Hêrnani e José Maria

REAL MADRID – Alonso; Navarro e Lesmes; Muñoz, Oliva e Zarraga; Molowny, Olsen, Di Stéfano, Matteos e Gento

1-0 aos 5 minutos, por Hernâni; 1-1 aos 11 minutos, por Di Stéfano; 2-1 aos 15 minutos, por Virgílio; 3-1 aos 72 minutos, por Carlos Vieira; 4-1 aos 75 minutos, por Romeu; 4-2 aos 79 minutos, por Perez Payá; 5-2 aos 85 minutos, por Monteiro da Costa.