Alemanha. Instabilidade abala Angela Merkel

Eleitorado castiga chanceler pelas negociações fracassadas de novembro e quase metade quer vê-la fora do poder antes do fim do mandato.

A chanceler alemã parece ver-se enfraquecida por estes dias em que a laboriosa tarefa de construir uma nova aliança de governo com os social-democratas está parada e de férias.

Uma sondagem publicada esta quarta-feira no diário “Die Welt” sugere que praticamente metade dos alemães não deseja que Angela Merkel fique mais quatro anos na liderança e quer que abandone o cargo de chanceler antes do fim do mandato.

A consulta, conduzida pelo YouGov para a DPA, sustenta que 47% dos alemães querem Merkel fora do governo antes das eleições de 2021. A última sondagem do género, realizada no início de outubro, mostrava que apenas 36% dos inquiridos desejava então a sua partida precoce.

Em muitos sentidos, este valor é próprio de um sistema multipartidário. Afinal de contas, os democratas-cristãos venceram apenas com 33% dos votos nas eleições de setembro, pelo que se entende que mais de metade da população não queira mais quatro anos de Merkel, em quem a maioria não votou.

Mas a mesma sondagem de há dois meses demonstrava que, apesar disso, 44% dos eleitores queria depois das eleições que Merkel cumprisse os quatro anos de mandato, quando, hoje, só 36% defende esse cenário.

A queda parece dever-se sobretudo ao fracasso nas negociações entre os conservadores de Merkel e os liberais do FDP e Os Verdes: a difícil chave tripartidária conhecida como a solução “Jamaica”, que descarrilou por completo em novembro.

Merkel pode estar a pagar as dívidas da atual instabilidade política alemã, mas não há indícios de que ela ou o seu partido venham a ser seriamente castigados num possível – embora improvável – regresso às urnas.

Uma outra sondagem publicada esta quarta-feira, pelo “Bild”, indica que os conservadores recuperaram dois pontos percentuais nas intenções de voto nas últimas semanas e que estão de regresso ao patamar dos 33% conquistados nas eleições.

Os social-democratas de Martin Schulz, por sua vez, obtêm a mesma percentagem de setembro – 20,5% –, mas caídos 0,5 pontos desde a última sondagem. A AfD, o partido nacionalista anti-imigração, caiu 1% entre consultas, para os 13%.

Solução em breve

O instantâneo capturado por esta sondagem é útil para entender a importância das negociações entre democratas cristãos e os social-democratas, que arrancam no início de janeiro ainda de uma forma esboçada – chamam-lhes, para já, “exploratórias”.

Uma solução estável de governo pode estabilizar a reputação de Merkel, mas se os dois partidos do centro falharem e o país avançar mesmo para novas eleições, calcula-se que os nacionalistas da AfD beneficiem mais que os outros.

O entendimento, de resto, não será fácil: Schulz sabe que o resultado desastroso das eleições se deve muito aos últimos quatro anos de coligação com Merkel e quer luz verde para o seu ambicioso projeto de integração e reforma europeias.

Assim o diz esta quarta-feira o ministro alemão a cargo dos Negócios Estrangeiros, o social-democrata Sigmar Gabriel:  “Uma coisa é certa: se a chanceler insistir em rejeitar todas as propostas de reforma da UE, não há coligação com o SPD”, disse ao “Bild”.

O colunista Paul Taylor espera que a chanceler aceite pelo menos uma parte do programa europeu social-democrata que se conjuga com a proposta de reformas de Emmanuel Macron, o presidente francês.

“Pessoas próximas das negociações falhadas dizem que ela insistiu em ter rédea solta para avançar com as reformas de Paris e da Zona Euro, e em não estar manietada”, escreve Taylor no portal Politico. “Ela, como sempre, avançará passo a passo.”