Médicos esperam que “cada cidadão compreenda que na Medicina ainda há muita incerteza e insucesso”

Esse é um dos 12 desejos da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna para mais e melhor saúde em Portugal, em 2018

A poucos dias do fim do ano, a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna reuniu 12 desejos para o próximo ano. O objetivo? Mais e melhor saúde em Portugal.

Os médicos internistas começam por pedir um desejo mais abrangente, esperendo "que cada cidadão e profissional de saúde se torne consciente da degradação dos nossos ecossistemas, das suas causas e das consequências para todos nós e das que terá para os nossos filhos e adopte e defenda comportamentos que contribuam para um ambiente sustentável".

Além disso, a SPMI pede "que cada cidadão tenha direito a políticas, cidades, instituições que promovam estilos de vida saudáveis e seja incentivado e ajudado a abandonar comportamentos de risco".

Outra das preocupações dos médicos é "que cada cidadão tenha acesso a cuidados de saúde com boa qualidade e em tempo adequado, não sendo penalizado pela região em que vive, pelo seu sexo, orientação sexual, cor da pele ou rendimento económico".

Entre os votos da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna conta-se ainda "que cada doente seja respeitado nos seus direitos, tratado com humanidade, que seja informado sobre a sua condição, sinta que é tratado por uma equipa que comunica entre si, comprometida em minimizar os riscos que corre, com médicos que o tratam pelo nome e não pelo número da cama, que o tratam como uma pessoa e não como uma patologia, respeitam a sua individualidade, preocupam-se com ele e sabem o que o preocupa, que sabem quem é, o que faz ou o que fez na vida".

"Que cada doente internado tenha direito a um ambiente que o ajude a recuperar" é outro dos votos destes profissionais de saúde, que exemplificam com "o acesso a luz natural, vista da natureza, luzes indirectas, cores e cheiros agradáveis, conforto térmico, descanso nocturno, música, televisão, arte nas paredes e respeito pela sua privacidade".

A SPMI dedica um voto em particular aos idosos, esperando "que cada doente idoso, que sofre de várias doenças, tenha direito a um internista que o assista, independentemente do serviço em que seja internado, e que possa ter a opção de ser internado na sua casa".

Depois, as atenções viram-se para o problema crescente do abandono dos doentes nos hospitais. "Que nenhum doente permaneça no hospital depois de ter alta, por ter sido abandonado pela sua família, por estar à espera de cuidados continuados, pela falta de resposta da Segurança Social ou da rede de cuidados paliativos", pede a entidade.

No oitavo desejo espera-se "que cada doente não se sinta perdido quando passe do hospital para os cuidados primários ou cuidados continuados, paliativos ou a assistência social, que estas instituições comuniquem entre si, funcionem em rede, de forma integrada, motivadas e centradas nas necessidades e preferências dos doentes, de forma que estes não tenham que usar sempre as urgências para resolver os seus problemas".

Estes profissionais de saúde esperam, também, que "cada cidadão compreenda que na Medicina ainda há muita incerteza e insucesso e que o nosso poder é mais limitado do que os media podem fazem crer".

Quanto aos doentes, o desejo é que tenham "médicos que reconheçam o seu sofrimento e o saibam aliviar e que não seja sujeito à obstinação terapêutica que lhe roube a seu direito a uma morte digna e em paz".

Os médicos internistas não esquecem também os responsáveis pelas decisões relacionadas com a saúde e pedem que as tomem "baseadas em evidência, centradas no interesse dos doentes" e que "avaliem as consequências das suas decisões e das reformas que promovem, monitorizem a qualidade dos cuidados e entendam que melhorar a qualidade dos cuidados de saúde é mais barato que prestar cuidados com má qualidade e que isso promove a saúde das pessoas".

Por fim, a SPMI dedica o último voto aos seus profissionais, médicos internistas. Espera "que o enorme esforço físico e psicológico exigido aos Internistas portugueses que diariamente trabalham nas urgências dos hospitais, nas enfermarias de Medicina, nas unidades de cuidados intermédios ou especiais, nos cuidados intensivos, nas consultas externas e nos hospitais de dia dos hospitais, de forma abnegada e competente, muitas vezes em situações limite, em nome do seu compromisso com os doentes, tratando muitos para além da lotação dos seus serviços, evitando rupturas penalizadoras, que este trabalho seja reconhecido e recompensado e tenham direito a equilibrar a sua vida profissional com a sua vida pessoal".