Marcelo, figura do ano

Ainda a refazer-me de um Natal em família, tencionava passar uma semana calma e tranquila, sem nada que me ‘incomodasse’, à espera do novo ano de 2018. 

Mas Portugal ainda me consegue surpreender, no seu melhor e no seu pior. Fui surpreendido por um Presidente inesgotável de energia, a relembrar as desgraças dos fogos cuja memória Marcelo não deixa ‘apagar’; e por uma reportagem da SIC no Bairro da Torre, ali para os lados de Camarate, em que 50 famílias vivem há mais de um ano sem luz. 

Pelo meio, um discurso de Natal de António Costa a prometer o que os portugueses gostam de ouvir: medidas para evitar que se repitam as desgraças dos fogos e garantia de esforços para assegurar mais e melhor emprego.
 
De Marcelo Rebelo de Sousa e da sua inesgotável energia, todos têm dito tudo. E a única coisa que posso acrescentar é que nunca esperei diferente. 

Multifacetado, jovial, com as suas conhecidas ‘traquinices’, Marcelo conquistou o povo pelo lado mais sensível – pelo coração. 

Soube sair do seu conforto de Natal com a família para ir ter com quem precisa, como tantas vezes tem ido ter com os sem-abrigo, ou ir visitar a Casa dos Marcos, relembrando o que nesta coluna eu já tinha dito: uma obra notável, cujo mérito e continuidade não podem ser postos em causa por circunstâncias infelizes de alegado aproveitamento pessoal. 

Mas ir à zona dos fogos, prometendo voltar no final da Primavera, foi também uma forma de Marcelo ‘entalar’ o Governo, pois significa que ‘vai estar atento’ ao futuro. António Costa respondeu no seu discurso de Natal, e ainda bem, porque de compromissos é que precisamos.

Entretanto, nos ecrãs da SIC passou uma reportagem sobre o Bairro da Torre, uma urbanização degradada com 50 famílias a viver sem eletricidade. 

Conheço há mais de 35 anos o tema das puxadas de eletricidade ou de água, algumas autênticas obras de engenharia popular. Há muitos anos, por motivos profissionais, tive uma visita guiada e confesso que a imaginação popular é notável, corroborando que a necessidade aguça o engenho. 

Em suma, esta gente precisa de eletricidade e há que resolver esta situação rapidamente, em conjunto pelo Município de Loures e EDP. 

Mais de um ano sem luz é uma vergonha para todas as autoridades envolvidas! Há que ser criativo – ou será que Marcelo tem de ir visitar aquele bairro para a luz aparecer por milagre? 

António Costa quer mais e melhor emprego. Todos queremos! Mas, perante a escassez de capital em Portugal para investimentos de vulto, isto só pode ser obtido com investimento estrangeiro, sobretudo com novas Autoeuropas, dado o investimento produtivo ser prioritário, tal como defendeu Teodora Cardoso, que aqui citei e elogiei. 

O atual crescimento do PIB (excelente perspetiva para 2017, pelo menos de 2,8%) tem muito a ver com o emprego no turismo (hotelaria e restauração), este sim precário e em que muitas vezes apenas se paga o salário mínimo nacional. 
Portanto, para haver ‘melhor emprego’, falta dizer como se faz. Não basta querer. Apoiar a captação de investimento é também aplicar medidas de incentivo (fiscal, laboral ou outro), minimizar a burocracia do Estado (muito lento a aprovar projetos, como tanta gente refere) e, sobretudo, incrementar a eficácia da Justiça, que tem de ser célere e clara nas suas decisões. 

Falta um tema: a legislação laboral e a paz sindical. Aqui há que resolver o problema na Autoeuropa ou ninguém volta a investir em Portugal a não ser em mais do mesmo – imobiliário (não tem operários com força sindical!) ou turismo (precário ou mal pago). 

Um documentário recente que vi sobre lutas sindicais em Itália, sobretudo na Fiat nas décadas de 70/80, mostraram como uma certa esquerda queria destruir o patronato sem preocupações de construção de alternativas, a não ser a estatização da economia. 

Será um remake o que a CGTP quer na Autoeuropa? Os operários nem são mal pagos de todo, até se sabe que há anos estes ‘patrões exploradores’ levaram uns 400 destes ‘explorados’ para a Alemanha quando a produção baixou para não os lançar no desemprego, e a paga é esta? Se adoecerem ao fim de semana, esperam certamente que os hospitais estejam abertos. Mas eles próprios não podem trabalhar de acordo com a legislação aprovada? Ou o objetivo é mesmo fechar a Autoeuropa?

P.S. – Este tema da legislação sobre o financiamento dos partidos, aprovada em vésperas de Natal, é uma machadada na credibilidade de quem a aprovou. Mais do que a liberalização de donativos, a isenção de IVA – incluindo a lavagem de casos anteriores de IVA em contencioso – revolta quem tem de pagar impostos. Ou seja, os cidadãos ‘normais’, que literalmente sustentam os políticos, qual casta superior.