Vanessa. A maldição das resoluções de Ano Novo

Listas, listas, mais listas. As pessoas, aconselhadas por diversos gurus de auto-ajuda, cada vez estão mais maníacas das listas. Mas a lista das resoluções de Ano Novo para a Vanessa é uma obrigação anual. Esta semana mandou-me a lista para 2018.

Chega o fim do ano e é sempre a mesma coisa. Toda a gente quer firmemente ‘mudar’ em 2018. Mudar maus hábitos, deixar de fumar, ir ao ginásio três vezes por semana, passar a comer saudavelmente. Os viciados em listas deliram por estes dias, compram agendas novas só para escrever as resoluções do Ano Novo e acreditam que é desta que vão conseguir. Neste tipo de coisas a lista costuma ser encabeçada, no caso dos fumadores, pelo sacrossanto desejo de ‘deixar de fumar’. Também já me aconteceu. No dia 1 de janeiro de 2002 deixei de fumar e foi bom. Já lá vão quase 16 anos. Correu tudo lindamente: não engordei, a minha pele ficou subitamente resplandecente, comecei a dar mais na Coca-Cola light porque uma mulher não é de ferro, e nem sentia assim tanto a falta do tabaco em que estava viciada desde os 20 anos. Foram dois meses e meio em que tive um enorme orgulho em mim própria, na minha força de vontade, na minha fantástica capacidade de acabar com maus hábitos e com o horroroso cheiro do tabaco (como comecei a fumar tarde, lembro-me perfeitamente de não achar que o cheiro dos fumadores fosse glorioso). 

Tudo acabou por causa de uma campanha eleitoral – nesse ano de 2002 houve eleições legislativas a 17 de março, que Durão Barroso acabaria por ganhar. Numa manhã, dias antes da campanha começar, levantei-me, fiz café numa cafeteira antiga, sentei-me numa cadeira da cozinha e comecei a pensar como se iria montar a cobertura da campanha, que é uma das coisas complexas no jornalismo. E nesse momento achei que fumar um cigarro não faria mal. Era só um. Eu estava stressada. O cigarro é o melhor aliado do stresse (um médico ou outro pode confirmar o que eu digo, ainda que a maioria venha com a conversa da Organização Mundial de Saúde). E foi aí, na cozinha, às primeiras horas da manhã, que a minha resolução do ano novo de 2002 caducou. Ainda hoje acho, irracionalmente, que a culpa foi de Durão Barroso, que ganhou com 40,21% ou de Ferro Rodrigues, que ficou em segundo com 37,79%. O menos culpado talvez fosse na época o Bloco de Esquerda, já que só conseguiu 2,81%, bastante abaixo dos comunistas (6,94%) e do CDS (8,72%). O mundo mudou e eu continuo a fumar. 

E é por isto que quando a Vanessa me mandou esta semana as suas resoluções de Ano Novo não liguei muito.

A lista era a seguinte:

1. Deixar de fumar [lá está, tinha que ser, esta é obrigatória para quase todos os fumadores]
2. Passar a ir ao ginásio três vezes por semana [outra recorrência universal do início de janeiro]
3. Deixar de comer fritos [mais uma banalidade]
4. Tomar todos os dias pela manhã água com limão seguido de um frasco de chá de gengibre frio que segundo o nosso amigo V. traz grandes alegrias à vida 
5. Ler o Guerra e Paz 
6. Ler o Em Busca do Tempo Perdido
7. Ler o Ulisses do James Joyce
8. Ler o Livro de Pantagruel [a Vanessa sempre teve complexos de culpa de não saber cozinhar como a mãe, as avós, as tias]
9. Sair à noite uma vez por semana
10. Deixar de andar com malucos, procurando o ‘homem certo’ [esta é daquelas resoluções que a Vanessa faz todos os anos e que costuma durar um mês, tendo em conta que os malucos são irresistíveis ou só há malucos no mercado, é o que ela diz].
11. Acordar às oito da manhã
12. Comprar dois despertadores para evitar que esta resolução não falhe
13. Pedir à Julinha, que se levanta todos os dias às sete, para lhe telefonar às oito, de modo a impedir o projeto de ir por água abaixo.

Foi aqui que me deu o sono e não me apeteceu ler mais.