Morreu Guida Maria

Atriz na Companhia Residente do Teatro Nacional D. Maria II por 20 anos, protagonista de “A Promessa”, de António de Macedo, Guida Maria trabalhou ao longo de 60 anos entre o teatro, a televisão e o cinema.

Tinha apenas 12 anos quando a crítica lhe reconheceu talento. Ao lado de Eunice Muñoz, fazia o papel de uma criança cega, surda e muda, em “O Milagre de Anne Sullivan”, encenada e traduzida por Luís de Sttau Monteiro em 1962. Princípio de uma carreira a percorrer seis décadas do teatro, da televisão e do cinema português, interrompida aos 67 anos. Guida Maria morreu nesta terça-feira, vítima de cancro, confirmou à agência Lusa o encenador António Pires.

O velório realiza-se ainda nesta terça-feira, na Basílica da Estrela, em Lisboa, a partir das 19h. O está marcado para quarta-feira, no Cemitério dos Prazeres, às 15h.

Primeiro grande sucesso da atriz – filha do ator Luís Cerqueira e mãe de Julie Sergeant – "O Milagre de Anne Sullivan" não foi porém a sua estreia na representação. Essa tinha acontecido já em 1957, aos 7 anos, na peça "Fogo de Vista", de Ramada Curto, para uma carreira que, entre mais de 40 peças e depois da Escola de Teatro do Conservatório Nacional de Lisboa e da American Academy of Dramatic Arts de Nova Iorque, não se ficaria pelo teatro apenas.

Durante a década de 1970, só com António de Macedo, fez três filmes. "A Promessa", de António de Macedo (1972), "O Princípio da Sabedoria" (1975) e "A Bicha de Sete Cabeças" (1978) – e os papéis de cinema foram-se multiplicando nos anos seguintes, por filmes como "O Barão de Altamira", de Artur Semedo (1986), "O Vestido Cor de Fogo", de Lauro António (1986), "Os Emissários de Khalom" (1988) e "Serenidade", de Rosa Coutinho Cabral (1988 e 1989) e "No Dia dos Meus Anos", de João Botelho (1992). 

Mas seria naquele ano de 1978 que se tornaria, até à sua extinção, em 1998, atriz da Companhia Residente do Teatro Nacional D. Maria II. Vinte anos em que couberam "Auto da Geração Humana", "O Alfageme de Santarém", "As Alegres Comadres de Windsor", "A Bisbilhoteira", "A Casa de Bernarda Alba", "Romance de Lobos ou Bodas de Fígaro" e muitas outras. Ao palco da Sala Estúdio do mesmo teatro subiu ainda em 1996 com "Shirley Valentine", uma criação a solo. 

Na televisão, a estreia far-se-ia em 1981, na série "Uma Cidade Como a Nossa", também apenas princípio para o que estaria por vir. De "Cobardias" (1987), "Passerelle" (1988), "A Grande Mentira" (1990) ou "Quem Manda Sou Eu" (1990), a "Nico D'Obra" (1993), "Na Paz dos Anjos" (1994), "Nós os Ricos" (1996), "Filhos do Vento" (1996) ou "Esquadra de Polícia" (1998). Nos anos seguintes, participou ainda numa série de novelas como "Olhos de Água", "Tudo por Amor" ou "Baía das Mulheres", na TVI. E nas novelas, como Amélia em "A Única Mulher" teve o seu último papel, em 2016.