«Pensa global. Compra local»

Esta imagem, meio polícia, meio ladrão, é acompanhada da legenda: «Pensa global. Compra local». 

Apela, assim, a que o pensamento seja global, a que cada um de nós pense nas consequências dos seus atos para os outros e para o planeta. E aconselha a que, com este pensamento sempre presente, sejamos capazes de optar conscientemente por efetuar compras a nível local.

Ao fazer compras perto de casa, poupamos na deslocação de carro que implicaria o facto de fazermos as compras mais longe. Assim, poluímos menos o ambiente e reduzimos a chamada «pegada de carbono». Ao comprarmos aquilo de que necessitamos no comércio local, damos vitalidade a lojas tradicionais, que, face à concorrência agressiva, nos preços e na variedade, dos super e hipermercados, ou dos centros comerciais, têm dificuldade em sobreviver. E, como diz Gonçalo M. Tavares, «a grande inteligência é sobreviver».

É certo que é mais cómodo, para algumas pessoas, deslocarem-se a um centro comercial, ao fim de semana, ou à noite, e aí efetuarem as suas compras, tendo à disposição diversas lojas no mesmo local. Porém, o ambiente fechado, a falta de luz natural e o ar condicionado que aí se respira são o oposto do prazer de passear ao ar livre, de entrar numa loja, conversar com quem está ao balcão, que tem normalmente algo a aconselhar; sair da loja e ir a outra, perpetuando, assim, a experiência de contacto próximo entre quem compra e quem vende. A revitalização dos mercados é disso testemunha. Muitas são as pessoas que, ao sábado de manhã, fazem as suas compras nos mercados. Em Lisboa, a experiência resume-se a alguns bens essenciais, mas, fora dos grandes centros urbanos, os mercados aproximam-se tendencialmente de feiras, que vendem uma variedade muito grande de produtos – desde animais vivos a roupa, instrumentos agrícolas e árvores.

Muitas autarquias têm já em execução planos de apoio ao comércio local ou fazem planos de forma a impedir que estas lojas se vejam forçadas a fechar portas, «depois de tanto erro passado / Tantas retaliações, tanto perigo», como diz Vinicius de Moraes. Porém, tais planos, existentes ou em formação, são ainda insuficientes e muitas barbearias são substituídas por cafés, as drogarias por bancos, as retrosarias por restaurantes. Nos centros históricos, há lojas que se mantêm abertas graças ao turismo, ao facto de serem «very typical». Mas, fora dos locais turísticos, é mais difícil manterem a vitalidade.

A recuperação de alguns mercados, em Lisboa e no Porto, onde se renovaram algumas áreas e se converteram em espaços de restauração, tem contribuído para alargar o horário de funcionamento e tornar estes pontos atrativos para os mais jovens.

E gosto de pensar que isto é feito simplesmente por mim, por ti…

 

Maria Eugénia Leitão, Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services