Os discos que vamos querer ouvir em 2018

O streaming veio para ficar, o vinil ressuscitou, o CD é um objeto em vias de extinção, a morte do álbum é uma notícia falsa, o rock perdeu a eletricidade, o hip-hop roubou-lhe as drogas, o jazz acorda da hibernação e gostar de música portuguesa já não é vergonha, é orgulho. 2018 vai ter um pouco disto tudo

Capitão Fausto

A melhor banda de rock deste país assumiu-se voz de uma geração com o…faustoso “Capitão Fausto Têm os Dias Contados”. Pura ironia, o álbum de 2016 é o seguro de vida que qualquer grupo ambiciona um dia. Os últimos dias do ano passado foram passados em São Paulo onde os Capitão Fausto gravaram aquele que será o difícil quarto álbum. É que conquistada a imortalidade sob a forma de canção, pisados os palcos dos maiores festivais e de salas magnas como o Coliseu, já não há tudo para ganhar. 

Arctic Monkeys

As bandas rock do Séc. XXI revisitam quase todas um passado qualquer. Os Arctic Monkeys também têm referências mas não soam a pós-punk, nem new wave, psicadélico ou cool britannia. São apenas rapazes a viver a vida, e a celebrá-la ao sabor das conquistas. A América de Elvis e dos Queens of The Stone Age inspirou “AM”, o álbum de rock para quem gosta de Drake, que o conservadorismo europeu adora detestar. São a banda rock mais importante do seu tempo e este ano acabam-se as férias mas não o recreio. 

Sérgio Godinho

Pôs-se na pele de outros em “Caríssimas Canções”, álbum ao vivo só de versões resultantes de crónicas escritas para o “Expresso”, juntou-se a Jorge Palma para uma digressão mútua com sentimento, escreveu o primeiro romance “Coração Mais Que Perfeito”, publicado este ano, mas é preciso recuar a 2011 para desbloquear a voz a de SG Gigante em novas canções. “Nação Valente”, o primeiro álbum em sete anos, chegará em Janeiro. 2018 ainda pode ser o primeiro ano do resto da vida de Sérgio Godinho.

Jack White

Por falar em gente crédula, memória, construção, blues e rock’n’roll, Jack White prepara o sucessor de “Blunderbuss” e “Lazaretto”, dois dos melhores álbuns dessa espécie em avançado estado de composição que é o rock, dos últimos anos. Em Dezembro, foi revelado o estranho conjunto de sons “Servings and Portions From My Boarding House Reach”, manta de retalhos inéditos onde sobra o ruído e falham as definições. Se é uma amostra, está a caminho o “Yeezus” de Jack White. Será?

Manel Cruz

A reunião dos Ornatos Violeta foi exceção e não regra. Desde o consenso post-mortem, provocado quer pela descoberta da geração da Internet, quer pela vitória de Filipe Pinto no concurso “Ídolos” com “Ouvi Dizer”, Manel Cruz tem-se dedicado a escapar ao passado Prova desse modo particular de estar, a coleção caseira “Foge Foge Bandido”, recebida como objeto de culto pelos muitos fiéis conquistados ao longo do caminho. Dez (!) anos depois desse disco-livro, é tempo de ouvir dizer: “Ainda Não Acabei” no novo álbum.

Justin Timberlake

Como poucos, Justin Timberlake limpou o acne e lançou-se para uma das mais sólidas e inspiradoras carreiras pop no Séc. XXI. O verdadeiro herdeiro de Michael Jackson tem em “Justified” (2002) e “FutureSex/LoveShow” (2006) um par de álbuns decisivos para compreender a influência da árvore negra na música popular. Ameaçou deixar a música de vez para se dedicar ao cinema, vestiou o melhor fato em “Suit & Tie” e 2018 trá-lo de volta com “Man On The Woods” e a sugestão country para confirmar a 2 de fevereiro.

Jorge Palma

Tal como Sérgio Godinho, com quem palmilhou autoestradas nos últimos três anos, Jorge Palma não grava um novo álbum desde 2011 mas isso não significa que tenha estado parado. Revisitou os clássicos “Bairro do Amor” e “Só” em palco, escreveu para outras vozes, celebrou 45 anos de carreira com a Orquestra Clássica do Centro e tocou. Muito. Em entrevista ao i publicada no final do ano passado, confessou já ter seis canções escritas e assegurou que o sucessor de “Com Todo o Respeito” não passará de 2018. E os temas estão identificados: “amor, poder e morte”. Promete. 

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Vampire Weekend

Há dez anos, o indie explodia de vez em Brooklyn e os Vampire Weekend estavam na linha da frente com uma pop algo burguesa mas tão literatata quanto saltitona. Era o tempo dos MGMT, da glorificação dos Animal Collective e dos TV On The Radio, do (re)conhecimento dos The National e dos The Walkmen. Uma década depois, estes Vampire Weeknd sem Rostam, a principal fonte criativa do grupo, são uma incógnita. O vocalista Ezra Koenig já revelou que o novo álbum é inspirado por sessões de composição para Kanye West que nunca viram a luz do dia. Oxalá se note.

Dead Combo

A pré-história da portugalidade musical no Séc. XXI começou a ser escrita pelos Dead Combo e pelos Buraka Som Sistema quando o discurso preconceituoso e o gosto envergonhado ainda reinavam. Foi graças a corajosos como Tó Trips e Pedro Gonçalves que a música portuguesa deu um salto rumo à identidade. Poucas bandas definiram a Lisboa, como hoje a reconhecemos mulata, modernista ou pitoresca, como os Dead Combo. Em 2018 chegará o primeiro álbum em quatro anos dos “Lusitânia Playboys”. 

Kanye West

Quase ninguém reparou ou valorizou mas Kanye West conseguiu um feito inédito em 2017: para o bem e para o mal, calou-se após uma série de mal-entendidos sobre Trump. E calou-se depois de uma digressão com morte prematura, após de ter abandonado o palco ao fim de vinte minutos, e depois das torrenciais críticas a Beyoncé, Jay Z, Hillary Clinton, Barack Obama, Mark Zuckerberg, Drake, o universo em geral e em particular. Quanto tempo irá o mais influente de todos os criadores do Séc. XXI esperar sob os tetos de Calabasas?