PSD. Liderança parlamentar de Hugo Soares está em risco

PS e Bloco mais flexíveis e PCP isolado. No PSD, Passos prossegue no habitual silêncio. A pressão está focada no presidente da bancada

Como se denomina um despreocupado com as suas próprias preocupações? 

Hugo Soares, presidente do grupo parlamentar do PSD há menos de meio ano não vê “com nenhum motivo de especial preocupação” o veto do Presidente da República às alterações (das quais foi primeiro signatário) da lei do financiamento dos partidos. O grupo de trabalho, que contou com todas as forças partidárias, foi, aliás, coordenado por um deputado da bancada social-democrata, mas Hugo Soares não considera que o veto de Marcelo represente “qualquer derrota dos partidos” porque “em democracia as instituições funcionam com toda a naturalidade”. 

Santana Lopes e Rui Rio, por outro lado, consideraram nas últimas semanas que o processo de alteração à lei dos partidos pecou, precisamente, por essa falta de “normalidade” – a que Marcelo chamou “escrutínio público”. Santana considerou o sucedido como “incompreensível”; Rio achou que “não fez sentido”. E é mesmo a pensar neles que Hugo Soares pausou a marcha. Ontem, em conferência de imprensa, o jovem líder de bancada revelou que iria aguardar que o partido escolhesse o sucessor de Passos Coelho (que se mantém em silêncio) para tomar a sua posição.

O facto de Hugo Soares ter acompanhado de perto o processo já fez com que o ex-presidente do PSD Marques Mendes considerasse o seu comportamento como próximo da “leviandade” política. 

O facto de Hugo Soares ter feito aprovar a lei que concebera com os outros partidos sem reunir com o seu grupo parlamentar ou com a sua direção de bancada – qualquer dos possíveis futuros presidentes do PSD (Rio ou Santana) são contra essa lei  – também tem feito crescer a pressão em torno do deputado. O sucessor de Luís Montenegro  vê assim a sua vida complicada e deverá ser incentivado a colocar o lugar à disposição depois de Passos sair. 

Se Hugo Soares procurou desvalorizar o veto de Marcelo Rebelo de Sousa (o Presidente, em nota entretanto divulgada, havia condenado a falta de “transparência” e de “explicação”), o PCP reagiu com estrondo ao Palácio de Belém. “A sua decisão sem fundamento no seu conteúdo merece a discordância e crítica do PCP. A decisão levanta uma questão a que o futuro responderá sobre quais são os critérios do Presidente da República sobre questões de relevante importância face ao desenvolvimento de campanhas públicas baseadas no populismo”, afirmou o comunista José Capucho, que relevou ainda que “o PCP não vê nenhum motivo verdadeiro para que alterações não sejam reafirmadas pela assembleia”.

Os que ouviram Mais flexíveis foram as reações do Bloco de Esquerda e do partido do governo, o PS. “A verdade é que não houve informação sobre esta matéria, é um défice de publicidade e esclarecimento destes assuntos”, assumiu Carlos César, presidente dos socialistas e líder da bancada do PS, apelando a que “esta discussão seja exposta de forma mais transparente para que os portugueses compreendam discussão e o que está em causa”.

Do lado do BE, Catarina Martins também se mostrou disponível para correções na condução do processo. “Com esta decisão do Presidente da República, o parlamento realizará nova apreciação de uma iniciativa legislativa que gerou grande controvérsia e debate na sociedade. Essa apreciação deverá corrigir as deficiências de escrutínio público apontadas pelo Presidente”, garantiu a coordenadora bloquista.