Deixem-me comer croquetes!

O atual Governo, embora socialista, demonstra aqui e ali tiques extremistas e totalitários, talvez pela cedência ao suporte de extrema-esquerda com que sobrevive. 

Enquanto afirma o liberalismo radical nos costumes e põe em causa os fundamentos e valores do modelo da nossa sociedade, impõe proibições desproporcionadas nas mais elementares escolhas do nosso dia-a-dia.

O novo ano trouxe, como habitualmente, os aumentos nos transportes, nas portagens ou na eletricidade. Esteve para trazer um imposto sobre as batatas fritas, mas para já escaparam.

Este ano trouxe também a proibição de comer croquetes ou rissóis, palmiers ou jesuítas, queques ou croissants, sandes de presunto, bolachas várias e todas as que tenham chocolate, refrigerantes sejam de cola, tea ou outros com ou sem gás, e até ‘águas aromatizadas’ em bares de hospitais ou centros de saúde.

Há uns anos foi a ‘Europa’ que trouxe regras a impor frutas calibradas e lustradas, ovos todos iguais, normas para a cura de presunto ou queijos e restrições para o fumeiro. Até a fava e o brinde do bolo-rei foram proibidos…

Depois entrou em ação a ASAE, com excessos interpretativos da lei, implicando com as colheres de pau nos restaurantes e com os galheteiros.

A alimentação constitui um elemento fundamental para a saúde. Ninguém duvida da importância da segurança alimentar e de uma alimentação saudável e equilibrada para a qualidade de vida.

Nos últimos anos tem-se verificado a degradação da alimentação, especialmente dos mais jovens. A generalização da alimentação fast food, o acesso a alimentos de baixa qualidade a baixo preço, a falta de tempo (seja para comprar alimentos ou para cozinhar, seja para comer, seja para educar ou sensibilizar), e os fenómenos de globalização (na publicidade, no comércio ou nos hábitos alimentares) são fatores que têm contribuído para a perda de qualidade alimentar da população.

Importa contrariar a degradação da qualidade alimentar, mas a proibição é o pior caminho para este objetivo. A proibição é o caminho de quem se demite de querer construir algo sustentável baseado no respeito pelas pessoas, na informação e sensibilização, ou na criação de condições que permitam escolhas mais saudáveis.

Nas escolas, as cantinas tornaram-se uma espécie de ‘salas de tortura’, com comida nem sempre saudável mas quase sempre intragável, empurrando as crianças para os restaurantes de fast food e para as lojas de conveniência, com bebidas e alimentos de baixa qualidade mas baratos. É urgente investir em alimentos com qualidade nas cantinas das escolas e realizar ações de sensibilização e educação alimentar.

Nos hospitais e centros de saúde, é necessário que seja garantida alimentação de qualidade aos doentes, mas não se impeça alguém, que se vê privado de saúde, de ter o pequeno prazer de comer um simples bolo.

Importa informar sobre a qualidade dos alimentos, sensibilizar para uma alimentação saudável, fazer campanhas de divulgação eficazes, fomentar hábitos alimentares saudáveis. Mas não proibir nem violentar.

A dieta mediterrânica foi recentemente elevada à condição de património da humanidade – a nossa dieta tradicional. O mar garante alimentos saudáveis e de grande qualidade – o nosso país também é o mar…

Portugal tem condições ímpares para assegurar qualidade alimentar. As características naturais, a produção, a cultura e a tradição devem ser incentivadas e protegidas como meio de promover a melhoria dos hábitos alimentares. Este deve ser o caminho.