Em Dia de Reis, saudemos o quarto Mago

Os últimos dias de 2017 não foram agradáveis para o Presidente da República. Felizmente, tudo acabou bem e a mensagem de Ano Novo mostrou-o em boa forma. Os três dias de paragem forçada fizeram-lhe bem. 

Leio Marcelo Rebelo de Sousa desde que o Expresso chegou às bancas. Tenho seguido as suas opiniões, sempre que escreve ou fala. Como sempre sucede, concordei e discordei. Outras vezes, espantei-me com ziguezagues pouco canónicos ou senti incómodo com relatos de ações e omissões graves. Em certo momento, terei mesmo afirmado que um político com semelhante perfil nunca teria o meu voto. 

Como acredito na redenção dos pecadores, chegou a hora de fazer o mea culpa. Contrariamente às minhas ‘certezas’, reconheço que o atual inquilino de Belém é a pessoa a quem melhor assenta o título de ‘Presidente de Todos os Portugueses’. 

Dos mergulhos no Estoril à conversa com o vendedor de castanhas, à ginja no Barreiro − essa coutada do comunismo −, ao conforto aos que sofrem ou aos jogos com crianças em escolas e hospitais, tudo nele é naturalidade e simplicidade, a contrastar com a solenidade bafienta das visitas presidenciais dos tempos da outra senhora, aligeiradas logo a partir de Ramalho Eanes. 

Mesmo um comunicador nato como Mário Soares fica a léguas de distância. Condescendia em dançar com as peixeiras da Nazaré, mas deixava perceber uma linha de separação entre a elite da cidade e o povo da terra. Marcelo é o oposto: o povo não é instrumento mas destinatário da sua atenção.  Onde quer que esteja, é igual a todos… porque é igual a si mesmo.

Nos exercícios que se fazem nos finais de ano, Marcelo Rebelo de Sousa foi quase unanimemente eleito a ‘personalidade de 2017’, por razões que cada um entendeu destacar. Coube-nos em sorte um quarto ‘rei’, que merece o primeiro lugar no pódio da popularidade dos ‘súbditos’. Rendido às evidências, engulo a colher de ‘óleo de fígado de bacalhau’ e digo: longa vida, Senhor Presidente!

Embora com críticas a um alegado excesso de exposição, e à legitimidade dos ralhetes ao Governo, aos deputados ou aos tribunais, o povo gosta do estilo e acredita que Professor de Direito, que se senta em Belém, sabe que o Rei reina mas não governa. 

O bom povo confia que o Presidente coroado rei não irá esquecer que cada um dos três poderes – executivo, legislativo e judicial − deve ser exercido com independência, o que significa liberto dos constrangimentos que os ‘puxões de orelhas’ representam e que, pouco a pouco, se absterá de elogiar, porque quem aplaude é quem elege, e não o árbitro, a quem cumpre ser equidistante. 

Amante do ténis, o Presidente sabe que o árbitro está lá em cima, sentado numa cadeira-escadote, justamente para não poder interferir no jogo.

Assim ou assado, com mais ou menos ralhetes, com elogios ou sem eles, o povo está grato a um Presidente que considera um dos seus. Longa vida, Senhor Presidente!