O bem, o mal – ou só a raça humana

Crítica do filme ‘Três Cartazes à Beira da Estrada’

Sobre o bem e sobre o mal – ou apenas sobre o que aqui realmente existe: a raça humana. Por estas linhas se vai cosendo o filme com que, depois de Veneza e Toronto, Martin McDonagh não varreu, mas bateu o recorde do ano nos recém entregues Globos de Ouro. Se “Três Cartazes à Beira da Estrada” parecer descritivo em demasia para um filme (para o que quer que seja, já no original “Three Billboards Outside Ebbing, Missouri”), talvez não seja para um início que nos dirá logo ao que vamos. “Violada enquanto morria?”, “Ainda nenhuma detenção?”, “Como é que é possível, xerife Willoughby?” Três cartazes ao longo da estrada à saída de Ebbing, no Missouri. Obra de quem também logo a polícia há de descobrir, que não será, até certo ponto, sobre suspense este filme.

Obra de Mildred (Frances McDormand, que bem conhecemos de “Fargo”), que sete meses depois de ver a sua filha adolescente brutalmente assassinada e perante uma aparente indiferença da polícia resolve chamar atenção para o caso alugando os três outdoors à entrada da cidade para o seu protesto. Aparente, porque aparente será a palavra certa nesta história de crime temperada pelo melhor humor negro em que entre uma gigantesca onda de violência gerada pela revolta de Mildred, McDonagh desmonta, um a um, em cada personagem, estereótipos e maniqueísmos. E com isso, se a história do crime se resolve… já nem importa.