Brexit. Farage propõe segundo referendo para acabar com as dúvidas

Ex-líder do UKIP acredita numa nova rejeição britânica da UE e quer “matar” o assunto “por uma geração”. Sugestão foi recebida com agrado junto dos pró-europeus

O artigo 50º do Tratado de Lisboa foi acionado há quase um ano e as negociações para a saída do Reino Unido da União Europeia já arrancaram há meses, mas para lá do Canal da Mancha ainda se discute a legitimidade do referendo de junho de 2016, que ditou a saída dos britânicos do bloco europeu. Ora depois de Tony Blair, Sadiq Khan, Nick Clegg ou Andrew Adonis terem insistido, durante semanas a fio, na realização de uma segunda consulta à Europa, um nova e inédita voz juntou-se agora ao clube: Nigel Farage.

No programa “Wright Stuff”, do Channel 5, emitido durante a manhã desta quinta-feira, o eurodeputado anti-UE, antigo líder do UKIP, e figura de topo da campanha pelo Brexit, defendeu a necessidade de um novo referendo, que possa pôr um ponto final nas lamúrias dos pró-europeus e às hesitações do governo em relação ao acordo a alcançar com Bruxelas.

“Os ‘Cleggs’, os ‘Blairs’ e os ‘Adonises’ nunca, nunca, nunca irão desistir [de mais um referendo]. Continuarão a queixar-se e a lamentar-se durante todo este processo”, começou por dizer Farage. “Talvez esteja a chegar ao ponto de pensar que deveríamos ter um segundo referendo à permanência na UE (…), com o qual mataríamos [o debate] durante uma geração”, propôs, na pele de comentador político. Farage acredita piamente que a percentagem dos que votariam pela saída num eventual referendo seria “muito maior do que foi na última vez” e que esses números farão o antigo primeiro-ministro Blair “desaparecer para a total obscuridade”.

A proposta do ex-líder do UKIP foi reforçada pelo próprio na rádio LBC ao final da tarde – no qual defendeu que os britânicos “devem preparar-se para um segundo referendo, quer gostem ou não” – e foi recebida com agrado junto de Arron Banks – o principal financiador do partido nacionalista e xenófobo britânico e da causa eurocética. Ainda assim, foi liminarmente rejeitada por vários “brexiteers” dentro do Partido Conservador.  “[Esta sugestão] é a confirmação de que Nigel Farage é um dos maiores impedimentos para um Brexit bem-sucedido”, lamentou o deputado tory Steve Baker, citado pelo “Guardian”.

A principal onda de apoio às palavras de Farage surgiu, no entanto, no lado oposto da barricada. Algumas das principais figuras pró-União Europeia da arena política britânica receberam a hipótese de um segundo referendo de braços abertos e mostraram-se agradadas com a mudança de discurso do deputado em Estrasburgo.

O liberal democrata Tom Brake afirmou que Blair e Farage revelam “bom senso” nesta questão do Brexit, e o trabalhista Chuka Umunna defendeu que os britânicos “têm direito” a um segundo referendo, caso o acordo que será alcançado entre Theresa May e a UE “não corresponda às promessas feitas” pelos que fizeram campanha pela saída. Já o deputado e líder da campanha “Best for Britain”, Malloch Brown, defende a naturalidade da nova consulta, tendo em conta as revelações diárias sobre o “desastroso” impacto do Brexit na “economica, emprego, comunidade e sociedade” britânicas. Todas estas figuras acreditam, ainda assim, numa vitória do “não” ao abandono do clube europeu.