Quem antes de o ser já o era?

Santana e Rio têm em histórico o que lhes falta em frescura, novidade e mobilização. Mas as legislativas só são daqui a mais de ano e meio… em política é muito tempo.

Pedro Santana Lopes ou Rui Rio. Hoje à noite fica a saber-se quem sucederá a Pedro Passos Coelho na liderança do PSD e da Oposição.

Tratando-se de uma eleição partidária, interna, não há sondagens fiáveis nem vencedor antecipado. Eles, os candidatos ou as candidaturas, lá saberão quem pagou mais quotas e, por conseguinte, quem segue mesmo na dianteira. Tudo o resto, nos partidos, é relativo.

Quotas à margem – que é como quem diz: alheando-nos do determinante -, à partida, Rui Rio levava significativa vantagem.

Teve anos de preparação e de marcação do seu posicionamento, teve tempo para trabalhar o programa e o aparelho e organizar a máquina, somou apoios e juntou descontentamentos com a direção cessante – nomeadamente na ala histórica do cavaquismo.

É certo que teve o revés de ter de adaptar o discurso com todas as baterias assestadas contra Pedro Passos Coelho a um candidato descomprometido com a anterior liderança do partido e do Governo.

Mas não deixou de partir em vantagem, capitalizando também com as anunciadas desistências de putativos adversários da geração mais nova, designadamente Luís Montenegro e Paulo Rangel, que preferiram reservar-se para desafios futuros.

Em clara desvantagem, Santana Lopes começou bem. Tal como Rio, não quis desperdiçar a sua última oportunidade de concorrer à liderança do partido – no seu caso, de voltar a concorrer – e revelou coragem ao trocar o conforto (e o poder) da provedoria da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa pela incerteza de uma candidatura, contra um candidato com arrais assentados, à liderança da Oposição num momento em que o Governo e o seu principal partido, bem como seu líder, parecem imbatíveis em próximas eleições.

Sendo certo que em política as certezas de hoje são dúvidas de amanhã e quantas vezes inverdades no dia imediatamente seguinte.

Dois anos, em política, é muito tempo. Verdade é também que Rio e Santana são dois pesos-pesados no partido, porque ambos com vasto currículo político.

Um apostado em apagar a má imagem da breve passagem por S. Bento, e por uma liderança do PSD condicionada porque herdada, e recuperar a aura da Figueira, de Lisboa e, mais recentemente, da Santa Casa da Misericórdia.

Outro apostado em provar que tem qualidades para se afirmar no plano nacional e não meramente regional e deixar no país a marca de rigor e de boa gestão que indiscutivelmente deixou no Porto.

A campanha foi demasiado longa. Com prejuízo para Passos Coelho, para os candidatos, para o partido e para o país.
Não foi, no entanto, particularmente entusiasmante. Nem para os militantes e muito menos para o eleitorado em geral.
Santana e Rio têm em histórico o que lhes faltou em frescura, em novidade, em renovação e mobilização.

Os debates animaram a peleia na reta final, com vantagem para Santana Lopes (em todos os frente a frentes), mas com savoir faire e bom controlo de danos de Rui Rio. E sobretudo o último, TSF e Antena 1, em que ambos demonstraram que têm programas e ideias para convencer o eleitorado de que o PSD é alternativa ao PS e à ‘geringonça’ de António Costa.

Desengane-se, por isso, quem menospreza qualquer um dos candidatos. A incerteza do vencedor manter-se-á até ao anúncio formal dos resultados.

E, já agora, desengane-se também quem já sentencia que as próximas eleições são favas contadas para o PS e para António Costa.

Porque a única coisa que antes de o ser já o era é só mesmo a pescada.

Mas, para isso, quer Santana quer Rio, seja qual deles for o próximo líder do PSD e da Oposição, tem de ser muito mais igual ao que foi nestes últimos dias de campanha e muito mais e melhor de hoje em diante do que nos últimos meses.