Rio ameaça: ‘Vão ver como as coisas são’

Há algum tempo que costumo dizer, em privado, a seguinte graçola: se Rui Rio fosse eleito primeiro-ministro restaurava a censura e acabava com a separação de poderes.   

É evidente que é uma piada – não acredito que Rui Rio fosse capaz de aprovar uma lei que obrigasse os jornais a irem, antes de serem publicados, a um qualquer renovado ‘exame prévio’. Aliás, a esmagadora maioria dos sociais-democratas abjura a ideia. No entanto, os arrazoados de Rui Rio contra a liberdade de expressão são antigos e na campanha interna que agora termina a minha ‘graçola’ não perdeu, infelizmente, atualidade. Rio vê a comunicação social livre como ‘inimiga’ e se o tal novo regime que pretende criar fosse, de facto, instituído, tudo indica que o lugar da liberdade de opinião seria muito diferente daquele que existe hoje. E não se trata, como Rui Rio já justificou, de os ‘direitos de resposta’ serem publicados ao lado da necrologia. A lei dos direitos de resposta foi muito agravada nos últimos anos e Rio parece desconhecer. 

O problema é que Rio não suporta ouvir uma opinião contrária e parte para a ameaça impensável numa sociedade livre. Esta semana, depois da entrevista que o ex-ministro Miguel Relvas deu à Rádio Renascença Rui Rio mostrou todo o seu potencial para a tentação de criminalizar o suposto delito de opinião dentro do seu partido caso seja hoje eleito presidente do PSD. Relvas afirmou pouco simpaticamente que o próximo líder é para dois anos e caso perca as legislativas será obrigado a demitir-se. Ora, se é natural que Rio se tenha irritado com as declarações de Miguel Relvas, que decidiu fixar um desagradável prazo de validade ao próximo líder do PSD, já é inaceitável a resposta que deu no debate organizado pela Antena 1 e TSF: «Se o clima dentro é já este já com as rasteiras, estamos mal! E se eu ganhar vamos estar mesmo muito mal porque eu não vou admitir uma coisa destas. Deixe-me ganhar que vai ver como as coisas são».

Se Rio ganhar, como é que então vão ser «as coisas»? Desata a aviar processos disciplinares aos militantes que discordem do líder? Introduz o crime de delito de opinião nos estatutos? Propõe Pacheco Pereira para presidente de uma comissão de controlo de quadros e da comunicação social, que analise as críticas internas e externas a atue em conformidade? Tenham medo, tenham muito medo.