Kenneth Waltz e o PSD

Kenneth Waltz, em Man, the State, and War, analisa as causas da guerra apresentando três imagens explicativas: a guerra como consequência da natureza e do comportamento do homem (1.ª imagem); a guerra como resultado da organização interna dos Estados (2.ª imagem); e, a guerra como produto da anarquia internacional (3.ª imagem).

O pensamento waltziniano é-nos útil, precisamente, porque as eleições diretas que hoje decorrem no PSD devem ser analisadas a partir destes três vetores: o homem (Rui Rio ou Santana Lopes); o Estado (Portugal) e a conjuntura internacional.

Quanto ao plano internacional, é preciso tomar nota que estamos perante uma profunda crise da democracia. A degradação do Estado de Direito e o aumento da corrupção originaram uma notória falta de confiança nos líderes políticos. Consequentemente, os partidos têm revelado total inabilidade em apresentar propostas que sejam apelativas ao eleitorado, cujo reflexo traduz-se nas elevadas taxas de abstenção. Os efeitos são evidentes. Na Europa, o populismo ganhou raízes. No mundo, os autoritarismos apresentam-se como desafiantes da visão wilsoniana.

 Neste contexto, a democracia portuguesa, saída da terceira vaga de Samuel Huntington, tem hoje grandes desafios pela frente. Portugal vive uma situação de exceção na Europa. Do ponto de vista político, apesar do impacto da globalização e da crise económico-financeira – propensa à exaltação dos partidos populistas –, o sistema partidário português manteve-se firme. Não obstante, o PS contornou esta tendência sociológica, arquitetando a já conhecida ‘geringonça’, com os populismos da esquerda e da extrema-esquerda. O golpe constitucional impediu o PSD – partido mais votado nas últimas eleições legislativas –, de formar Governo. Paralelamente, a sociedade portuguesa vive num estado anímico, cívica e politicamente. O voto de protesto manifesta-se, sobretudo, por via da abstenção.
 
Face a esta conjuntura, qual é o homem – utilizando a analogia de Waltz – com mais condições para assumir a liderança do PSD e, consequentemente, afirmar-se como o futuro candidato a primeiro-ministro? Sem dúvida alguma, Rui Rio. Os motivos são evidentes.

Em primeiro lugar, em termos de propostas, Rio apresenta uma nova visão política para Portugal. É uma lufada de ar fresco que assenta na reestruturação do regime, conferindo uma maior vitalidade democrática ao país. E bem precisamos de uma sociedade mais desenvolvida, com maior qualidade de vida, com mais justiça, que se reveja na reforma de um Estado mais descentralizado. Em segundo lugar, Rui Rio posiciona o país na Europa e no mundo. A cooperação internacional é a resposta certa numa ordem sistémica cada vez globalizada e desafiante. Em terceiro lugar, o país não pode ser propenso a alimentar o crescimento dos populismos de esquerda. O primeiro objetivo do PSD é ganhar as eleições. O segundo objetivo é afastar o BE e o PCP, mesmo que isso signifique viabilizar um Governo minoritário do PS. 

Em quarto, e último lugar, a grande diferença é Rui Rio. Poderia enumerar um conjunto de características pessoais e profissionais que o distinguem claramente de Santana Lopes. Não o farei por uma razão muito simples: os militantes do PSD sabem bem em quem podem confiar.