Tem havido poucos casos de gripe, mas continuam a surgir críticas sobre falta de resposta nos serviços

O número de casos de gripe este inverno está longe de bater a atividade dos últimos anos, mas continuam a surgir críticas à falta de resposta no Serviço Nacional de Saúde em momentos de maior afluência.

Esta semana, no Parlamento, o ministro da Saúde denunciou uma «teoria alarmista» e um processo organizado para criar a ideia de casos no SNS. 

Depois das críticas das Ordens dos enfermeiros e médicos mas também dos sindicatos, a Oposição falou de uma situação de rotura de serviços por falta de meios e acusa o Governo de estar refém das Finanças. O ministro da Saúde apontou o dedo às lágrimas de crocodilo à Direita, contrapondo com o aumento de contratações desde que tomou posse. «O caos está a onde? Está como estava o diabo», disse Adalberto Campos Fernandes, desafiando os deputados a visitar as urgências sem pré-aviso.

Concurso ‘para breve’ há vários meses

Um dos pontos que tem motivado críticas ao Governo é o facto de não terem sido ainda abertos os concursos para contratar os cerca de 700 médicos especialistas hospitalares que concluíram o internato no ano passado – 450 em abril e os restantes na segunda fase em outubro, com o Sindicato Independente dos Médicos e a Ordem a alertar que, perante este impasse, muitos médicos têm optado por emigrar ou ir trabalhar para o privado em vez de continuarem a trabalhar no SNS como internos.

Em setembro do ano passado, em entrevista ao SOL e quando o concurso dos médicos da primeira fase já estava atrasado face ao calendário do ano passado, o ministro da Saúde garantiu que o concurso seria aberto «em breve». Esta semana, no Parlamento, Adalberto Campos Fernandes insistiu que o concurso abrirá dentro de dias e que a opção da tutela foi juntar as duas fases num único recrutamento, salientando porém que o facto de não terem aberto os concursos não significa que os médicos não estejam a trabalhar.

A epidemia imprevisível

Quanto ao efeito da gripe na procura do SNS, o cenário tem sido algo singular. Se a previsão era de uma epidemia pior do que nos últimos anos, dado o recorde de hospitalizações no inverno do hemisfério sul, por cá ainda não foram detetados casos suficientes de gripe para que se fosse além do que pode ser considerado tecnicamente uma «atividade baixa». O Instituto Ricardo Jorge, que monitoriza a gripe, e a DGS sublinharam esta semana que a situação está numa fase estável, pelo que uma maior afluência às urgências terá mais a ver com a descompensação de doentes crónicos, associada por exemplo ao frio, do que propriamente ao vírus da gripe. Segundo a diretora-geral da Saúde Graça Freitas, nas últimas quatro semanas registaram-se mais 100 mil episódios de urgência face aos meses anteriores mas só 3% estiveram relacionadas com síndroma gripal. O bastonário dos Médicos, em entrevista ao i, disse esta semana que isso demonstra que uma pequena mudança é o suficiente para revelar as fragilidades do SNS, que está «frágil» e «no limite». A incógnita, como acontece em todas as epidemias de gripe sazonal, é saber se haverá um pico de gripe fora do comum e quando.