Itália. ‘Degno Di Te!’

Forma diferente de olhar para o futebol a Itália tem equipas nacionais de escritores, atores e músicos. Todas trabalham com uma finalidade humanitária e disputam partidas um pouco por toda a parte…

No tempo em que Gianni Morandi arrebatava corações cantando Non son degno di te ou Como fa benne l’amore também calçava volta e meia as chuteiras para se assumir como uma das vedetas da Cantante Calciatori, assim a modos como a seleção italiana de cantores que viajava por toda a parte disputando encontros festivos para angariação de fundos para as mais diversas associações de caráter caritativo.

Não correm pelas páginas dos jornais rios de tinta gabando as qualidades futebolísticas de Morandi, mas parece que nem era dos piores.

A Nazionale Cantante Italiana foi fundada em 1981 e Gianni Morandi foi um dos promotores da ideia, bem como Mogol, Ricardo Fogli, Umberto Tozzo, Pupo ou Pino d’Angio. Com esse objetivo solidário, embora recuperasse uma ideia mais antiga, datada de 1969, criada por Paolo Mengoli, que promoveu um desafio contra a Nazionale Attori, a sua versão teatral e primeira grande adversária.

Adiante-se: em Itália há três seleções com este princípio de atividade – Nazionale Cantante, Nazionale Attori e Nazionale Scritori, mais conhecida pelo Eduardo Galeano Football Club, tendo tomado o nome do grande escritor argentino, autor de Sol y Sombra ou Triste Solitário y Final, por exemplo. Diga-se pelo caminho que o Osvaldo Soriano Football Club vai um pouco mais longe nos seus objetivos do que os seus colegas músicos e atores: fazem questão de jogar em zonas desfavorecidas do país – a sua sede é em Cesena – e de ofertar livros a hospitais, cadeias e outros institutos de solidariedade social.

Fundada em 2001, a Nazionale Scritori tem mesmo disputado torneios internacionais contra as suas homólogas da Suécia, Áustria, Suíça ou Alemanha. Inspirou igualmente um documentário que ganhou fama, chamado Scritori nel Pallone de David Pinella. As suas ações multiplicam-se internacionalmente, como aconteceu recentemente durante a fase final do Campeonato do Mundo do Brasil com um programa transmitido diariamente incentivando à leitura.

A bola e o aparo

O homem que fez nascer o Osvaldo Soriano Football Club chama-se Paolo Verri que não tardou a bater à porta das responsáveis culturais governativas, Paola Cimati e Silvia Brecciaroli.

Pernas para que vos quero!

Ou melhor, pernas para correr.

A ideia foi tomada a peito e amplamente divulgada, com mais sorte do que acontecera com os atores e cantores.

O futebol também tem os seu preferidos.

Em breve, o Osvaldo Soriano estava inscrito e a disputar a Writter’s League, uma competição que não se limita à organização desportiva da prova mas que aproveita os encontros para fazer debates sobre estilos literários. A primeira edição da Writter’s League teve lugar em San Casciano dei Bagni, junto a Siena. Isto em 2005. Depois repetiu-se por mais três vezes: em Bremen, Alemanha, em Coverciano – o centro desportivo italiano por excelência, perto de Florença, e em Malmö, na Suécia.

E, por falar em Suécia, registe-se que estes pequenos Europeus de escritores (participaram até ao momento a Inglaterra, a Alemanha, a França, a Noruega, Turquia Hungria e Israel) foram completamente dominados pelos suecos, vencedores das quatro edições, provavelmente porque têm, hoje por hoje, uma geração muito jovem de escritores. Mas isso é simples especulação. Até porque a Alemanha e a Itália (por duas vezes) também já somaram títulos.
Gente como Giampaolo Simi, Marco Cassardo, Francesco Marocco, Claudio Menni, Mirko Romano, Valerio Aiolli, Fabio Geda, Francesco Forlani, Enrico Remmert e Paolo Verri tem-se mostrado tão hábil com a bola como com o aparo. 

Os atores

País de futebol, ou de calcio, se quiserem, a Itália não se limita a uma seleção de cantores (a mais antiga) e a outra de escritores.

Em 2007 surge a Rappresentativa Italia Attori.

O nome não deixa grandes dúvidas. Trata-se da seleção nacional de atores. Em três anos recolhe mais de um milhão de dólares que são entregues ao departamento de Direitos Humanos e Universais da ONU. O ideólogo foi Pier Paolo Pasolini e estão representados atores de cinema, teatro e televisão.

A equipa disputa em média entre dez e quinze jogos por ano, tanto em Itália como no estrangeiro e, sob a presidência de Jonis Bascir, só participa em partidas de caráter solidário. Um campo, o capitão é um capitão a sério: Giacomo Losi, ex-jogador da AS Roma.

Exemplar, esta forma de juntar as artes com o futebol, à maneira do que o poeta russo Aleksandr Block chamaria a Grande Orquestra Mundial das Artes é também uma brisa fresca no universo de um jogo que não se transformou apenas num negócio sem igual como também num palco de guerras sanguinárias.

‘Uniamoci, amiamoci;/L’unione e l’amore/Rivelano ai popoli/

Le vie del Signore’. Assim se canta o hino. Com propósito!