Tantos nascimentos no público como no privado pode ser reflexo dos problemas do SNS

Dados de 2017 mostram que em Lisboa e no Porto houve um número de nascimentos idêntico no SNS e no privado. Protestos dos enfermeiros especialistas, no verão, terão contribuido para esta situação, mas os problemas estão longe de estarem ultrapassados

Tantos nascimentos no privado como no serviço nacional de saúde. Caso se venha a confirmar que este é o panorama nas duas maiores cidades do país, Lisboa e Porto, esse poderá ser um dos reflexos dos problemas que o serviço público de saúde tem enfrentado.

Segundo o que o presidente do colégio de ginecologia e obstetrícia da Ordem dos Médicos disse à Lusa tudo indica que o número de nascimentos tenha sido equivalente no último ano, sobretudo nas duas cidades, mas os números ainda não são oficiais. João Bernardes afirmou que no serviço público as equipas de obstetrícia trabalham muitas vezes no limite e que isso pode ter estado na origem de uma maior afluência aos hospitais privados em Lisboa e no Porto.

“Havendo uma diminuição de nascimentos [no ano passado] e um aumento de nascimentos no privado, parece que o público está de facto com uma pressão muito grande”, disse.

Tal como o i noticiou no verão do ano passado, esta foi uma das áreas onde mais sentiram as consequências do protesto dos enfermeiros especialistas. Em causa estava a reivindicação de melhores condições salariais, que levou inclusivamente os profissionais a pararem.

Em setembro, por exemplo, o porta-voz do movimento dos enfermeiros especialistas em  saúde materna e obstétrica, Bruno Reis, disse ao i que os protestos levaram a uma mobilização generalizada, tendo os serviços de obstetrícia contado apenas com 10% a 15% dos enfermeiros especializados.

Com a falta de profissionais surgiram episódios de preparações de parto canceladas, visitas às maternidades adiadas e induções de parto atrasadas. Foram meses de braço de ferro e só em outubro é que o governo chegou finalmente a acordo com o sindicato dos enfermeiros.

Estas situações poderão ter estado na origem do nivelamento de partos no setor privado e no Serviço Nacional de Saúde, mas mesmo com o acordo conseguido os problemas estão longe de ter chegado ao fim. Quem o diz é João Bernardes, alertando para a falta de enfermeiros especialistas em saúde materna e obstetrícia em unidades hospitalares de grande dimensão, como é o caso do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

À Lusa, o presidente do colégio da especialidade, diz ser necessário alertar “junto das hierarquias e da tutela […] para que se resolvam os problemas porque rapidamente se pode transformar num problema maior”.