Qual era a relação entre Versace e o seu assassino?

O estilista italiano foi a quinta e última vítima de Andrew Cunanan

O primeiro episódio da série American Crime Story: O Assassinato de Gianni Versace estreou ontem nos Estados Unidos da América – Em Portugal, vamos ter de esperar até ao dia 25 de janeiro para assistir à estreia na Fox Life. Com o lançamento desta série sobre o assassinato de estilista italiano, surgiram vários rumores sobre a sua relação com Andrew Cunan, o seu assassino. Mas o que pertence à realidade e o que já cai na fantasia?

(SPOILER ALERT: se não quer saber nada sobre a série, é melhor não ler este texto. São descritas duas das primeiras cenas) Logo no primeiro episódio da série, existem dois encontros entre Versace e Cunanan: um numa sala V.I.P de uma discoteca e outro na Ópera de São Francisco. A questão é: até que ponto estes encontros aconteceram mesmo? Tendo em conta a propensão para a mentira, será que estas não são fantasias de Cunanan, incluídas na série para ‘enganar’ o espectador?

Em 1997, Maureen Orth, autora do livro que inspirou a série, afirmou que Versace e Cunanan já se tinham conhecido em 1990. Com base em várias entrevistas feitas a pessoas que alegadamente testemunharam o encontro, a autora descreveu a forma como Cunanan e o seu amigo Eli Gould conheceram Versace numa sala privada de uma discoteca em São Francisco:

 “O designer entrou com um grupo, no qual estava incluído [o namorado de Versace] Antonio D’Amico e [o coreógrafo] Val Caniparoli, que rapidamente o apresentou a várias pessoas. Após 15 minutos de conversa com alguns do que ali estavam, Versace começou a observar a sala. Reparou em Andrew, que estava com Eli, e dirigiu-se a ele. “Eu conheço-te”, afirmou o estilista, “Do Lago di Como, não é?”. Versace referia-se a uma casa que tinha naquele lugar, perto da fronteira com a Suíça. Diz-se que costumava usar esta deixa quando queria começar uma conversa com um desconhecido”, escreve Maureen Orth.

“Andrew e Eli ficaram encantados. “Exactamente”, respondeu Andrew, “obrigado por se lembrar Signore Versace”. Andrew apresentou Eli, que começou a falar sobre uma ópera. Eli e Andrew acabaram por se afastar e foram para a pista de dança”, lê-se na obra de Orth.

Entretanto, outro homem disse ter visto Versace e Cunanan juntos: após o assassinato do estilista, a 15 de julho de 1997, Doug Stubblefield disse ter visto Versace e aquele que viria a ser o seu assassino juntos num carro, acompanhados pelo socialite Harry de Wildt. Mais tarde, Harry negou todas estas alegações, dizendo que nunca conheceu Cunanan. A verdade é que alguns amigos de Cunanan disseram a Orth que tinham sido apresentados a Harry de Wildt pelo próprio Andrew.

Um deles, Steven Gomer, disse que chegou a encontrar Cunanan na Ópera de São Francisco. Este estava vestido com um fato elegante e disse-lhe que tinha saído o restaurante Carpaccio, “onde tinha estado com Gianni”. Este foi um dos episódios que inspirou uma das cenas da série.

Negócio do sexo Ao longo dos últimos 20 anos, a família de Versace afirmou várias vezes que que Gianni e Andrew não se conheciam. No entanto, Maureen Orth, autora do livro que inspirou a série deu uma entrevista esta semana à Vanity Fair onde diz não ter dúvida de que o estilista sabia bem quem era o seu assassino.

“Está tudo documentado, com o testemunho de várias pessoas”, que dizem que Versace e Cunanan tinham estado juntos mais do que uma vez.

A verdade é que, em julho de 1997, Orth foi uma das primeiras pessoas a ter um palpite certo em relação à identidade do assassino do estilista. A partir do momento em que se soube que Cunanan era o autor do crime, Orth passou vários meses a estudar a sua personalidade e os seus hábitos. A autora chegou à conclusão que o jovem de 27 anos era inteligente, mas tinha um grave historial com drogas e um lado sexual sombrio.

É neste ponto que muitos defendem que Versace e Cunanan se cruzaram. São muitos os que afirmam que Gianni e Andrew participavam no “negócio do sexo” – Versace como o ‘comprador’ e Andrew como o ‘fornecedor’. Cunanan falava muito sobre Versace e contava varios episódios que envolviam o estilista a alguns amigos, que contaram pormenores sobre as conversas ao FBI, aquando do desaparecimento do homicida.

O que Cunanan contou aos amigos Não se sabe o que era verdade e o que não era: Cunanan contou várias mentiras aos amigos. Algumas sobre a sua infância, outras sobre as inúmeras celebridades que conhecia. Nada do que dizia batia certo com a realidade. Quanto aos encontros com Versace, Cunanan terá contado a estes amigos apenas um episódio, em que o estilista o terá abordado numa discoteca – o que bate certo com os testemunhos dados a Orth. Mesmo tendo em conta o que contava aos amigos e os testemunhos de , Cunanan terá estado uma (no máximo duas, contando com o testemunho de um outro amigo, Steven Gomer) vezes com Versace, o que não pode ser visto como uma relação próxima.

Ao todo, Andrew Cunanan matou cinco pessoas. Gianni Versace foi a sua última vítima, a 15 de julho de 1997. Oito dias depois do homicídio, Andrew suicidou-se com um tiro na cara.  Os seus pais defendem ainda hoje que Andrew estava inocente e que foi tramado pela máfia italiana.