Alain Delon. A beleza, a guerra e a solidão que o acompanhará para sempre

Numa entrevista de vida à revista Paris Match, o ator francês recorda o abandono pelos pais quando tinha quatro anos e encara o presente com desencanto

“Se vogliamo che tutto rimanga come è, bisogna che tutto cambi”, diz Alain Delon, na pele de Tancredi, em O Leopardo (1963), de Luchino Visconti. Por outras palavras: “É preciso que tudo mude para que tudo fique na mesma”.

E tudo parece ter mudado para o ator francês, na altura um galã de 28 anos, hoje um homem de 82. Só que nada ficou na mesma. Numa entrevista de vida à Paris Match que tem corrido mundo, o ator declarou: “Conheci tudo, vi tudo. Mas sobretudo odeio esta época, vomito-a”.

Em conversa com a jornalista Valérie Trierweiller, antiga companheira do ex-presidente francês François Hollande, Delon recordou os altos e baixos da sua vida.

No princípio, era a beleza. “Falavam nessa beleza constantemente. Já a minha mãe mo repetia quando eu era miúdo. Na rua, as pessoas paravam para lhe dizer:

‘Como é belo o seu filho!’”.

Mas nem tudo foram rosas nesse período. “É certo que tive uma infância infeliz. Este período foi uma espécie de aprendizagem de vida. Como aceitar que os teus pais se desembaracem de ti quando tens apenas quatro anos? Eles divorciaram-se, refizeram as suas vidas e eu fui colocado numa família de acolhimento, como um órfão”. A solidão provocada por esse abandono, considera, acompanhou-o para o resto da vida.

Sequioso de liberdade, aos 17 anos voluntariou-se no exército para participar na Guerra da Indochina. “A maioridade na altura era só aos 21 anos e os meus pais assinaram a autorização para o alistamento sem hesitar, como se se desembaraçassem de mim mais uma vez. Eu culpo-os por isso. Não se envia um rapaz de 17 anos para a guerra…”.

“Louco por mulheres muito cedo” Quanto ao período mais feliz da vida, situa-o entre os 20 e os 28 anos. “Tinha regressado ileso da Indochina, o que por si já era miraculoso. O exército tinha-me forjado para sempre. Foi lá que aprendi a amar a ordem e a disciplina, a respeitar os chefes. E foi nesse momento que as mulheres e o cinema me estenderam os braços. Foi […] a explosão da minha carreira, o encontro com René Clément [realizador] e com Romy [Schneider], a minha primeira grande história de amor”.

Aliás, mulheres foi algo que nunca lhe faltou na vida. “A lista é longa!”, reconhece. “Tornei-me louco por mulheres muito cedo, e em particular pelas que tinham

mais cinco ou dez anos do que eu. E quando voltei do serviço militar, estive a viver no Pigalle [a zona de Paris dos cabarés e dos bordéis]. Algum tempo depois, várias mulheres jovens trabalhavam e eu vivia disso. Elas eram doidas por mim porque me consideravam bonito”.

Uma das mulheres da suas vida foi Mireille Darc, falecida no final do ano passado. “Espero que esteja feliz onde se encontra agora, lá em cima. Sofreu demasiado”. Talvez essa perda recente tenha contribuído para que considere este o período mais infeliz da sua vida. Ainda assim, diz-se “pronto para viver um último amor”. “Não digo que não haja candidatas. Há umas dez, mas de momento nenhuma me convém para terminar a vida”.