Bárbara Bulhosa sobre #MeToo: “Nos últimos tempos tem havido muitos exageros. A confusão está instalada”

Desde a publicação da já chamada carta de Deneuve no “Le Monde” que o consenso inicial em torno do tema do assédio parece desfeito. Partindo desta ideia, o i  fez duas perguntas a (Pôr o nome e o cargo da pessoas):

Bárbara Bulhosa, editora

1. A fronteira entre sedução e assédio está na existência de relações de poder hierárquico e na violência que pode ser exercida por quem assedia. Caso contrário, estaremos a falar de uma insistência que pode ser chata, mas não a considero crime. Este caso do comediante norte-americano Aziz Ansari é paradigmático para ajudar a esclarecer esta confusão. Na minha opinião, e pela descrição pormenorizada (que considero obscena na devassa da privacidade de uma figura pública), o que aconteceu naquela noite foi um desencontro de expectativas, mas não vejo ali qualquer agressão. Contudo, este episódio pode destruir uma carreira. Para além da proscrição social, temos a profissional. A rapariga (que curiosamente mantém o anonimato) tem dúvidas se foi violada. Acredito que se tivesse sido, não as teria.

2. O movimento #MeToo é importantíssimo. As vítimas de assédio e abuso sexual, por parte de homens e mulheres poderosos, devem falar, sob pena de estarem a ser cúmplices destes crimes. Contudo, nos últimos tempos tem havido muitos exageros. A confusão está instalada e existe um poder que pode ser muito capcioso. Em nome de uma causa justa, podemos estar a criar mais vítimas. Não acredito nesse caminho. Há um clima de vingança para com os homens e uma desqualificação das suas opiniões por serem homens. É muito injusto. Foi este o contexto que fez aparecer a Carta das Cem ou o texto de Margaret Atwood. São dois textos fundamentais porque são escritos por feministas que não acreditam que os meios justificam os fins e que para se ganhar uma causa, não se devem perpetuar os mecanismos que fizeram com que a desigualdade entre géneros exista até hoje. Eu acredito na igualdade.