Lei Seca à portuguesa

A senda proibicionista do Governo, que começou nos anteriores, diga-se em abono da verdade, não parece ter fim.

Primeiro foi o tabaco, depois o álcool para menores de 18 anos, seguiu-se o açúcar e já se chegou ao sal. Fala-se ainda que a comida rápida, tipo hambúrgueres, cachorros e afins, terão o mesmo destino: impostos e proibição. Algumas destas medidas têm um propósito nobre: melhorar a saúde dos portugueses para que estes gastem menos dinheiro ao Serviço Nacional de Saúde.

Em nome dos cofres do Estado, os sucessivos executivos têm tomado medidas proibicionistas alegando que o fazem em nome da saúde da população. Como se todos nós fôssemos ignorantes que não sabem que o tabaco, o álcool, o sal ou o açúcar fazem mal. Levando esta filosofia ao extremo, e falta pouco, vão ser criados guardas de costumes que proibirão os ‘maluquinhos’ da ginástica de praticarem mais do que a recomendável; vão obrigar todos a dormir oito horas; a beber um só copo de vinho às refeições (isto, claro, para os maiores de 18); a só tomar banho de dois em dois dias, por causa dos malefícios para a pela – fica mais seca e propensa a alergias, segundo alguns especialistas – e por aí fora.

Os governantes esquecem-se que a Lei Seca nos Estados Unidos da América, que esteve em vigor entre 1920 e 1933, surgiu para controlar a violência e os conflitos sociais. Até um estudante com quarta classe antiga sabe perfeitamente que o efeito foi o contrário: o crime organizado disparou, Al Capone tornou-se o símbolo dessa lei, e a violência cresceu de uma forma descontrolada. 13 anos depois de ter sido imposta, e com um país nas mão da máfia que comprava tudo e todos, Franklin Roosevelt, o Presidente americano, revogou em 1933 a famosa Lei Seca.

Em Portugal, parece que estamos a viver um período semelhante no que diz respeito ao consumo. Nunca tanta coisa foi proibida e parece que todos os partidos estão de acordo. Por este andar, quem gosta de pão com sal, por exemplo, terá de começar a procurar padarias clandestinas que fujam ao poder inquisitório dos governantes. Não seria mais lógico seguirem a máxima de aumentar os impostos a quem quer consumir esses produtos da forma que entenderem? É claro que o fazem com o açúcar e que o vão fazer com o sal, mas o objetivo final desta saga é oEstado tratar da nossa saúde antes de nós. Como se não tivéssemos a possibilidade de decidir se queremos ou não fumar, beber e comer produtos com açúcar ou sal. Não faltará muito para se banir o sal e o açúcar de todos os produtos, mandando, já agora, indústrias seculares à falência.

É isto que é profundamente irritante: os governantes quererem decidir por nós o que podemos ou não fazer. Não é preciso dar exemplos parvos emanados de Bruxelas que depois são seguidos pelos respetivos países e que se tornam num embuste terrível. Mas quem não se lembra das medidas obrigatórias para se vender fruta, quando a mesma para preencher os requisitos tinha de ser ‘carregada’ de produtos químicos? As maçãs e os peros que não tinham o aspeto ‘À La Bruxelas’ só podiam ser comercializados às escondidas. ou em feiras de agricultores.

Não estou a defender que não se façam grandes campanhas de sensibilização para os malefícios do consumo excessivo de álcool, açúcar e sal. O problema é outro: o Estado meter-se em tudo o que é a nossa vida. Onde irá acabar esta loucura da proibição?

vitor.rainho@sol.pt