Rodrigo Vaiapraia sobre o assédio: “Não é sexy insistir”

Desde a publicação da já chamada carta de Deneuve no “Le Monde” que o consenso inicial em torno do tema do assédio parece desfeito. Partindo desta ideia, o i  fez duas perguntas:

Rodrigo Vaiapraia, músico 

1. Se eu saio à noite e quero seduzir alguém, a primeira coisa que faço é olhar para essa pessoa. Se vejo que não há reciprocidade, procuro andar para a frente. A partir do momento em que tenho noção de que essa pessoa não está interessada em mim e continuo a importuná-la com a imposição da minha presença, do meu olhar ou dos meus gestos, estou a cometer um ato de assédio. Não é sexy insistir, muito menos aceitável.

2. Tudo o que tenho a dizer sobre essa carta é que é um ato de violência. O movimento #metoo tem sido uma onda de consciência que torna alerta e visível o quão reais e frequentes são os assédios para as mulheres (cis e transgénero), assim como para as identidades não-binárias. Creio que esta partilha de informação pode criar redes importantes de solidariedade e empatia. No entanto, é preciso não esquecer que se trata de tornar público algo absolutamente íntimo e ninguém se deve sentir obrigado a tal. Há mais assédio, para além daquele anunciado pelo #metoo. Os hashtags são ferramentas de mera sinalização e não de resolução de nenhum problema. O trabalho verdadeiramente radical também tem de começar a partir de quem já cometeu atos de abuso, na procura de um projecto proactivo de consciencialização e responsabilização.