O congresso da aclamação de Costa antes das eleições

António Costa será reeleito secretário-geral do PS nas directas de 11 e 12 de maio. Vai ser o último Congresso antes das legislativas. Só Daniel Adrião admite vir a ser opositor ao líder.

É a terceira vez que António Costa vai a votos junto dos militantes socialistas. Da primeira vez, as primárias entre o atual primeiro-ministro e o ex-líder do PS António José Seguro incendiaram o verão de 2014. Costa ganhou a Seguro mas, nesse tempo que hoje nos parece longínquo,  depois da vitória de Costa ainda existiam ‘seguristas’. Agora, no ano da graça de 2018, já não: entre os que politicamente faleceram, os que recolheram aos abrigos e os que se tornaram admiradores da liderança de António Costa, o apagamento é total. 

Tudo aponta para que, no Congresso dos dias 25 a 27 de maio, o secretário-geral e primeiro-ministro seja aclamado por ovação e unanimidade. Ou talvez não. Toda a Gália socialista está ocupada por António Costa, mas uma pequena aldeia gaulesa ainda resiste ao ‘imperador’. Daniel Adrião e o seu grupo de apoiantes são os habitantes dessa aldeia política. Em declarações ao SOL, Adrião afirma que voltar a recandidatar-se a secretário-geral contra Costa «é uma hipótese que está em cima da mesa». 

Foi o que aconteceu no último Congresso. Adrião queria apresentar uma moção de estratégia global, mas, segundo os estatutos dos congressos socialistas, a entrega de uma moção de estratégia global tem que vir anexada a uma candidatura a secretário-geral. A decisão ainda não está fechada, mas as diretas também só são depois do inverno passar.

«Se tomarmos essa decisão é por achar que há um modelo político alternativo de partido que deve ser discutido no Congresso», diz Daniel Adrião, que é hoje dentro do PS o maior defensor da reforma do sistema político e da realização de eleições primárias para a escolha de candidatos a quase todos os cargos políticos – deputados regionais, deputados à Assembleia da República, ao Parlamento Europeu. Em 2019 haverá eleições para a Região Autónoma da Madeira, para o Parlamento Europeu e para a Assembleia da República. 

Adrião defende que a eleição de Rui Rio para presidente do PSD abre agora uma janela de oportunidade para poder existir um acordo PS/PSD para uma reforma do sistema político que ainda vá a tempo de ser aplicado nos variados atos eleitorais que decorrem em 2019. «Com a nova liderança do PSD há condições objetivas para a reforma do sistema políco, que tem de entrar na ordem do dia», afirma ao SOL.

A proposta de Costa no tempo de Guterres

Na verdade, a proposta dos círculos uninominais já foi apresentada pelo próprio António Costa no século passado, anos 90, no tempo em que António Guterres era primeiro-ministro. Mas a coisa nunca foi avante, o que não impediu Costa de a inscrever no programa do Governo. A proposta caiu depois do acordo com o PCP e o BE, grandes opositores dos círculos uninominais, juntamente com o CDS. Os partidos mais pequenos do sistema são contra os círculos uninominais, sob o argumento de que os vão condenar ao desaparecimento – ou a uma substancial diminuição de deputados. A discussão política sobre os círculos uninominais arrasta-se desde o século XX.

Ao apresentar os objetivos do Congresso de maio na Comissão Nacional do passado fim de semana, Costa anunciou que a reunião máxima dos socialistas serviria para debater «as prioridades políticas» e elegeu como temas principais «a alteração do paradigma energético» e um «forte Estado Social»

Congresso na Batalha

«Este congresso servirá para debater as grandes questões que se colocam ao futuro de Portugal: a alteração do paradigma energético para respondermos às alterações climáticas, as questões relativas aos futuro do trabalho perante a sociedade digital, a necessidade de mantermos um forte Estado Social num contexto de desequilíbrio demográfico mas também para debatermos as prioridades políticas para este ano», disse o secretário-geral à entrada para a Comissão Nacional que decorreu no hotel Altis, em Lisboa.

O Congresso vai realizar-se na Batalha. A escolha serve para simbolizar uma das bandeiras do PS, a descentralização. O presidente da Comissão Organizadora do Congresso é o antigo secretário de Estado da Indústria, João Vasconcelos, que se demitiu na sequência da investigação sobre as viagens ao Mundial. 

Embora praticamente nenhuma das candidaturas reflita a existência de fissuras relativamente à quase unanimidade de Costa dentro do partido, realizam-se este fim-de-semana por todo o país as eleições para as comissões políticas concelhias do PS, aquilo que convencionalmente se chama ‘o aparelho do partido’. A eleição mais simbólica de todo o país é a luta pela concelhia do Porto (ver texto ao lado).

Seguem-se as eleições para as Federações – estruturas ainda mais importantes do aparelho e  equivalente às ‘distritais’ do PSD. Os militantes que queiram ser presidentes de federação têm agora 15 dias para apresentar a sua candidatura. 

Em Lisboa, o atual secretário de Estado da Defesa, Marcos Perestrelo, já não se pode recandidatar. Quem avança para a Fderação da Área Urbana de Lisboa (FAUL) é o atual presidente da concelhia de Lisboa e nº 2 da Câmara Municipal de Lisboa, Duarte Cordeiro.