Rui Rio: a teoria do ovo estrelado

As eleições no PSD da semana passada mostraram quão funda era a necessidade de mudança no partido. Sem apelo nem agravo, Rui Rio venceu as eleições depois de ter andado um ano na estrada a preparar-se para essa disputa. Foi o fim do passismo – a certidão de óbito será passada no próximo congresso. Muitas…

As eleições no PSD da semana passada mostraram quão funda era a necessidade de mudança no partido. Sem apelo nem agravo, Rui Rio venceu as eleições depois de ter andado um ano na estrada a preparar-se para essa disputa. Foi o fim do passismo – a certidão de óbito será passada no próximo congresso.

Muitas vezes escrevi nesta coluna que Passos Coelho foi um grande primeiro-ministro e um péssimo líder da oposição, a partir do momento em que não conseguiu aguentar no Parlamento o Governo que tinha formado. 

Os seus três maiores erros foram duvidar que a ‘geringonça’ se aguentasse, não apoiar Marcelo Rebelo de Sousa para a presidência e preparar as piores eleições autárquicas de sempre do partido. 

Estes erros conduziram o PSD a uma dificílima situação, com péssimos resultados autárquicos, más sondagens e uma crise generalizada de confiança, que faz com que os seus militantes e votantes não acreditem na vitória nas próximas eleições legislativas.

Como estava, o PSD não podia continuar. A mudança impunha-se. Os dois candidatos que disputaram a liderança fizeram-no simplificadamente por referência a Passos Coelho: Rui Rio como o anti-Passos, Santana Lopes como o herdeiro de Passos. E este é que foi para mim o principal problema do posicionamento político de ambos os candidatos.

Por um lado, porque em muitas coisas Rui Rio é muito parecido com Passos Coelho: no rigor que muitas vezes assume um radicalismo exasperante, por exemplo; ou na ortodoxia da defesa de boas contas públicas.

Mas, por outro lado, alguém achar que Santana Lopes ia carregar o andor de Passos é não o conhecer. Aliás, estou plenamente convencida de que, se tivesse ganho, teríamos um congresso de ranger de dentes. Porque Santana Lopes chegaria ao congresso e renovaria a classe dirigente para choque de muitos que já se viam entronizados.

Quem acha que Rio é o anti-Passos e Santana o herdeiro, é não conhecer nenhum dos dois.

Rui Rio tem agora uma tarefa monumental pela frente: tem de fazer a mudança que os militantes lhe pedem e para a qual lhe deram voto e mandato. A preparação e o congresso propriamente dito terão de ser uma afirmação de entusiasmo, esperança, novidade e confiança. Até porque, com congressos transmitidos na TV, as pessoas não querem ver ajustes de contas em casa, querem ver uma alternativa em quem votar.

Rui Rio tem um caderno de encargos:

1. Não preencher os órgãos do partido com anti-passistas primários, que não estão interessados no país mas apenas na sua muito particular vontade de desforra; 

2. Acolher apoiantes de Santana Lopes; 

3. Promover da paridade de género nos órgãos; 

4. Promover a geração de 70.

A novidade no congresso é importante. É assim como nós em casa: às vezes preferimos um ovo acabado de estrelar do que boa comida requentada…

sofiarocha@sol.pt