Graves falhas de prevenção

Há coisas que me fazem confusão! Quando sucede uma desgraça – e têm acontecido ultimamente com demasiada frequência – parece que nunca há culpados. Relatórios aos montes, falhas apontadas, mas raramente consigo ver a imputação objetiva de responsabilidades.  Esta foi mais uma semana com incidentes graves. Um em Tondela, com 9 mortos e dezenas de…

Há coisas que me fazem confusão! Quando sucede uma desgraça – e têm acontecido ultimamente com demasiada frequência – parece que nunca há culpados. Relatórios aos montes, falhas apontadas, mas raramente consigo ver a imputação objetiva de responsabilidades. 

Esta foi mais uma semana com incidentes graves. Um em Tondela, com 9 mortos e dezenas de feridos; outro num estádio de futebol, em que a Proteção Civil felizmente teve o bom senso de evacuar uma bancada apinhada de espetadores por terem sido identificadas fissuras na estrutura, porventura evitando uma tragédia. Em ambos os casos parece existir uma pecha comum: a falta de prevenção ou, se preferirem, vistorias prévias de segurança.

Comecemos por Tondela. Um incêndio com vítimas numa agremiação cultural onde se disputava um torneio de sueca (ou um jantar?). Fosse qual fosse a razão, a pergunta a fazer é simples: há ou não obrigatoriedade de vistorias, seja por entidades municipais e/ou por bombeiros? Há! Segundo li, parece que não foram feitas. Por que razão? O desconhecimento da lei não é argumento. Mas como ‘sei’ que somos todos uns gajos ‘porreiros’, a afirmação feita por autoridades de existirem dezenas ou centenas destas agremiações sem vistoria pelos bombeiros revela bem o conluio regional ou local entre estes e as populações. 

Falemos claro: se os bombeiros sabem que há uma agremiação de portas abertas, têm de forçar as inspeções; e se as respetivas direções não autorizarem, têm de selar as instalações. Não podem andar todos a beber cervejas à tarde nas tascas ou a jantar juntos em restaurantes à espera que nunca nada aconteça.

Passadas horas, num recinto desportivo no Estoril havia um jogo grande com a visita do FC Porto, por coincidência num dia em que Portugal foi abalado por um sismo no Alentejo, de 4,9 na escala de Richter. Obviamente que uma equipa grande, sobretudo à frente no campeonato, arrasta multidões. Estas, legitimamente, confiam nas autoridades para garantir a segurança das infraestruturas. E a Proteção Civil felizmente correspondeu – mandando (e muito bem) evacuar uma bancada pela existência de fissuras que poderiam indiciar o ruir da estrutura, quiçá pelo peso excessivo de uma massa adepta e fervorosa, muitas vezes ululante e que não se espera que se comporte como num espetáculo de ópera… 

Claro que nem considero sequer a hipótese de terem sido vendidos bilhetes a mais e a bancada ter cedido ao peso excessivo dos adeptos. Seria criminoso! Mesmo assim, há várias perguntas a fazer, sobretudo após ouvir um antigo vereador da C. M. Cascais – que refere, alto e bom som, que a construção da bancada naquele local nunca deveria ter sido permitida, dado ser um local de solo instável por estar num leito de ribeiro. 

Esta afirmação exige um apuramento da verdade, para saber se o antigo vereador tem razão e quem autorizou esta construção! Mas como a obra está feita – e até porque sucedeu um sismo nesse dia – não deveria ter sido objeto de uma vistoria prévia? São defeitos de origem ou supervenientes? As fissuras apareceram durante o jogo ou já lá estavam antes de o jogo começar e ninguém viu? 

Em resumo, existem claramente, em ambos os casos, graves falhas de prevenção. Não se pode pactuar com tamanha incompetência, dado não existir qualquer dúvida de que estamos na presença de situações que minam um pilar elementar da nossa vivência em sociedade: a confiança nas autoridades!

P.S. 1 – Após estas eleições, PSD ficou lamentavelmente dividido entre Rio e Santana, entre Norte e Sul, com um claro vencedor: António Costa. Sempre sonhou com um PSD amestrado, imaginando o líder agora eleito como seu aliado de poder. Se dúvidas houvesse, ouvir Manuela Ferreira Leite defender pactos inimagináveis com o PS, nunca para ganhar mas apenas para afastar a esquerda comunista, é ter a certeza de que o PSD se fragmentou. Assunção Cristas esfrega as mãos, porque depois de Lisboa poderá ter nas legislativas de 2019 uma votação histórica!

P.S. 2 – Expliquem-me quem é o ‘culpado’ da possibilidade da entrada da Santa Casa no Montepio. Sabemos quem gosta da ideia, ou seja, o Governo – pois tanto Costa como Vieira da Silva já o afirmaram. Mas ninguém assume a autoria da ideia. Será de geração espontânea? Santana, em tempos, teria até considerado uma hipótese de a Santa Casa entrar na banca; mas sobre o Montepio em concreto nunca o ouvi falar. Entretanto, a hipótese vai avançando, o quantitativo de 200 milhões de euros por um máximo de 10% já foi adiantado e até se iniciou um ‘due diligence’ de acordo com as boas práticas (que, aliás, há uns meses defendi nesta coluna). Mas se assim é, porque se dificultou esta entrada com a recusa de informação a quem faz o ‘due diligence’? Quanto mais se vai sabendo, mais se percebem duas coisas: o Montepio carece de capital fresco e de forma urgente, e a Santa Casa pode ser o ‘braço’ do Governo para evitar mais um resgate.